quarta-feira, 28 de maio de 2008

Professor Carcereiro

Com a redefinição do trabalho surge a redefinição das funções. O torneiro mecânico de hoje não é mais como o do passado, perito na prática dos cálculos cujo lápis, papel e paquímetro eram imprescindíveis auxiliares. Atualmente o torno é computadorizado dispensando tais ferramentas.O pedreiro de hoje, por exemplo, pode recorrer à betoneira e ainda existe o concreto usinado que já chega pronto à construção, entre outros inúmeros avanços tecnológicos da construção civil. Ganha-se tempo e poupam-se esforços físicos. O arquiteto, tanto como o projetista, o desenhista e demais profissionais de áreas semelhantes, parece que a cada dia vislumbram as réguas e os compassos como objetos de um passado longínquo, peças de antigüidade a serem contempladas num museu histórico. A popular parteira tornou-se a obstetra que possui nível superior e em muitos casos especialização. É o profissional que traz pessoas ao mundo. E quem diria, peões em obras rodoviárias cedem lugar aos bonecos com suas bandeirinhas e inscrições: “Cuidado! Obras na pista.” Outrora alguns fiscais de trânsito já tiveram destino semelhante na capital paulista.
Assim são algumas das transformações no mundo do trabalho com a criação de novos profissionais e as redefinições de funções; extinção de umas e criação de outras. O desenvolvimento social parece que nunca acelerou tão vorazmente como agora. A necessidade de qualificação para o trabalho é assustadora. E haja cursos de reciclagem!Diante desse panorama, a tradicional figura do professor - quase que imutável - aquela que parecia transcender os tempos, as regiões, culturas e nacionalidades, também sofre uma significativa mutação ou uma adequação às novas necessidades impostas pela modernidade e o desenvolvimento humano.
Eis que surge a função a qual deveria ser exercida, exclusivamente, pelo “professor carcereiro”. Agora só falta criar o profissional. Sua principal tarefa e, por conseguinte, função: conter o aluno em sala de aula. Essa função, mesmo desapercebida por muitos, parece que já vem de longe nas escolas de nosso país, sobretudo nas públicas. Mesmo não reconhecida e regulamentada, é exercida cotidianamente, hora a hora, minuto a minuto, aluno a aluno, sala a sala, escola a escola. A realidade exige um profissional especializado para tal função. Os cursos de formação ainda não se preparam diante da nova demanda. Mas a clientela precisa. A legislação também é omissa diante desta quase inusitada realidade.
Direções de escolas improvisam métodos de “cárceres pedagógicos” por conta própria, mas quase sempre sem efeito prático. De cadeiras e mesas nas portas das “celas” de aula impedindo a passagem até “conselhos” aos professores no intuito de manter não só os alunos em sala, mas também a ordem e a disciplina. A nova função exige que o atual profissional (ainda não qualificado para tal) desenvolva habilidades mirabolantes para não dizer sobre-humanas. É um pontinho aqui, um negativo ali, um silêncio premiado acolá, um gritinho, uma ameaça, um berro, um olhar... Há de se manter o aluno em sala a qualquer custo. As estatísticas ordenam. Ensinar não é o mais importante.Solicitar a presença do inspetor de aluno diante da indisciplina já não “cola” e punições viram-se contra o próprio profissional da educação. Há o caso do professor que depois de insistentemente pedir silêncio, numa situação limite, avisou ao aluno que solicitaria a sua saída de sala caso prosseguisse o distúrbio. Dito e feio, o aluno ignorou por completo a autoridade do professor. Este solicitou ajuda ao servente que também foi ignorado pelo jovem. O último recurso do mestre (que não se qualificou para ser um professor carcereiro) foi ameaçar: “ou eu, ou você saí”. E o aluno continuou em sala a desafiar e tumultuar, mesmo com os protestos dos colegas de classe. O professor, que já havia iniciado as atividades em sala, prontamente se retirou. Não bastando o afronto do discente, o mestre também fora golpeado pela direção da escola, pois que se sabe, até hoje, nada aconteceu ao aluno transgressor e o professor sofreu falta como se simplesmente não estivesse comparecido à escola.
Antes fosse assim, pois não teria sofrido tamanha humilhação. Outras tantas situações ilustrariam esta nova função, como por exemplo, a responsabilidade do docente em trancar e destrancar com as suas próprias chaves as “celas” de aula em períodos de intervalo a fim de evitar o furto do precioso e vilipendiado material escolar. Mas não estenderei os exemplos e as tentativas de definições desta nova função que necessita de maior atenção dos órgãos e autoridades competentes. Sou apenas um profissional da ciência histórica em busca de novos e melhores horizontes.Entretanto, fica um alerta para esta nova realidade com a ausência completa de regulamentação, preparação e capacitação desse novo tipo de profissional, parece que tão necessário quanto o giz e a lousa: o professor carcereiro.
Autor: Marcelo Botosso Bacharel, licenciado, mestre, doutorando em História e (pasmem!) professor, marcelo_botosso@yahoo.com.br

domingo, 20 de abril de 2008




O rei de Espanha mandou o presidente da Venezuela calar-se. A euforia tomou conta de todas as direitas, mas também deixou confusa muita gente boa. O que Chávez havia dito durante a Conferência da Comunidade dos Países Íbero-americanos? Que o ex primeiro-ministro espanhol, Aznar, é um fascista. O atual primeiro ministro da Espanha, Zapatero tomou a palavra para dizer que, embora tendo grandes divergências políticas com Aznar, achava que ele devia ser tratado com respeito. Zapatero não podia fazer diferente, tinha que se manifestar, porque sabia que seria cobrado na Espanha se houvesse se mantido em silêncio diante da crítica pública de Chávez.
O que fez Chávez enquanto Zapatero falava? Mesmo tendo o som cortado, continuou a falar paralelamente, interrompendo Zapatero, insistindo em seus argumentos contra Aznar, lembrando que este havia apoiado o golpe de Estado que derrubou Chávez do poder por dois dias em 2002 (por ordem de Aznar o embaixador da Espanha foi o primeiro a reconhecer o governo golpista)... Chávez estava cheio de razão, mas, como muitas vezes, foi impulsivo, deselegante, infringindo a etiqueta da diplomacia etc. Nesse momento, impaciente, o rei Juan Carlos exclamou: “por que não se cala?” A imprensa das classes dominantes do Brasil exultou e aproveitou para achincalhar Chávez mais uma vez. Por que tanta animosidade contra Chávez? Vejamos: quando Chávez foi eleito presidente da República pela primeira vez, em 1998, a Venezuela estava em falência política, suas classes dominantes, mergulhadas em profunda corrupção, desmoralizadas, não conseguiam mais governar. A maior riqueza do país, o petróleo, entregue às multinacionais de petróleo americanas, era partilhada por estas com as elites tradicionais e a alta classe média, ambas americanizadas, vivendo mais nos Estados Unidos que em seu país, seus filhos indo em massa estudar na Flórida, falando mais inglês que espanhol, acostumados todos a ver a Venezuela como uma fazenda de onde extraiam sua boa vida. A Venezuela é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo e exporta a maior parte da produção para os Estados Unidos. Chávez começou por questionar a dominação americana sobre o petróleo. Procurou fortalecer a capacidade de negociação da PDVSA (a empresa estatal venezuelana) com as multis. Além disso, constatando que as políticas das grandes potências haviam levado à redução brutal do preço internacional do petróleo (chegou a menos de 20 dólares o barril de 60 litros, isto é, petróleo estava mais barato que água mineral), assumiu a presidência da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e desenvolveu uma política de valorização do preço do óleo. Isso causou ódio e remordimento nos Estados Unidos e nos outros países ricos. Chávez também tratou de retirar das classes dominantes locais parte dos benefícios que recebiam do petróleo para poder investir na melhoria de condição de vida da população trabalhadora, especialmente em educação, saúde, alimentação, habitação. Isso enfureceu os velhos setores dominantes venezuelanos. Também o governo direitista espanhol, então comandado por Aznar, se incomodava. Porque a Espanha, ainda que há muito derrubada de sua condição de potência colonialista na América Latina, mantém grandes investimentos e desenvolve grande influência política por aqui, na condição de país sub-imperialista. Os americanos, auxiliados pelo governo de Aznar, conspiraram com as classes dominantes locais pela derrubada de Chávez em 2002. Deram o golpe, mas não levaram, impedidos por um levante popular associado a uma tomada de posição de parte das forças armadas em favor legalidade. Chávez reassumiu tendo muito mais clareza de quem eram e como atuavam os inimigos do povo venezuelano. Aprofundou sua política de nacionalização do petróleo e de destinar os benefícios dessa riqueza para os mais pobres. Sabendo o tamanho da ameaça, tratou também de fortalecer as forças armadas venezuelanas, comprando armas para melhorar a qualidade da defesa do país, vizinho de uma super-armada e pró-americana Colômbia e de várias bases militares dos Estados Unidos. Como diz o velho ditado, “bobo é quem pensa que o inimigo dorme”. Chávez também mudou as leis do país, promoveu a elaboração de uma nova Constituição, reformou a Justiça e o Parlamento, reforçando a participação popular. Por tudo isso, Chávez é acusado de ditatorial. O interessante é que todas as mudanças promovidas por Chávez foram feitas à partir de eleições, plebiscitos e consultas à população. Desde 1998 realizaram-se dez eleições e plebiscitos no país. Nenhum governo em tempos atuais consultou tão freqüentemente a população como o venezuelano. Eleições cuja lisura não foi contestada por observadores internacionais. Chávez ganhou todas e por larga margem. A oposição golpista, decidida a desmoralizar o regime político do país, esteve ausente de uma eleição. Comandou a abstenção, mas o povo votou em massa em Chávez e em seus candidatos ao Congresso. Resultado, com esse ato estúpido, apolítico, a oposição ficou sem representação nos poderes da República. E depois, saiu acusando Chávez de ditatorial.Certamente Chávez tem lá seus defeitos. Mas para se adotar uma posição madura sobre ele e seu governo, para ver com clareza no meio desse tiroteio é preciso levar em conta o principal. Registro três aspectos:1)Trata-se de um governo antiimperialista, construindo a independência de seu país e, por isso, um poderoso aliado de todos os povos latino-americanos na luta contra as políticas imperiais que nos empobrecem e mantêm dependentes. O Brasil e todos os outros países do continente têm sido beneficiados pelas posições e políticas do governo de Chávez.2) Também é preciso ver que ele vem promovendo políticas de melhoria das condições de vida da população trabalhadora e mais pobre da Venezuela e estimulando seu desenvolvimento econômico.3) Todas as grandes decisões de governo têm sido respaldadas em eleições legítimas. Atualmente, a irritação oligárquica contra Chávez alcança um novo ápice. Isso porque seu governo está propondo uma nova reforma constitucional. Uma das propostas é ampliar a possibilidade de reeleição do presidente da República. O povo venezuelano vai votar livremente e dizer se apóia ou não essa proposta. Se apoiar, Chávez poderá se reelegr outras vezes. E o povo venezuelano irá conferir no futuro se tomou uma decisão acertada ou não. É seu direito, é sua responsabilidade. Isso é democracia, é ou não é? Ou democracia é comprar deputados e fazer passar uma emenda à Constituição no Congresso para permitir a reeleição do presidente, sem consultar a população, como fez FHC mudando a regra do jogo para ganhar um novo mandato em 1998? Isso é democracia ou é golpe? É golpe. Mas para a imprensa oligárquica FHC é o democrata impoluto. E Chávez é que é ditador? Poupem-nos de tanta hipocrisia!

Carlos Azevedo é jornalista

Extraído do Informativo Caros Amigos nº 315, de 22 de novembro de 2007.
Postado por Professor Denilson Botelho no seu blog Na Bruzundanga com Denilson Botelho

terça-feira, 15 de abril de 2008

A Superação do Feudalismo

A SUPERAÇÃO DO FEUDALISMO – SÍNTESE TEÓRICA
PROFº ORLANDO REY

A crise do sistema feudal e o progressivo desenvolvimento do capitalismo criaram as condições necessárias para o surgimento do mundo moderno.
Entre o século XI e o início do século XIV houve a retomada do crescimento demográfico na Europa ocidental. A população européia que em 1050 girava em torno de 46 milhões, chegou a 73 milhões em 1300. Esses números são importantes para compreendermos melhor as transformações que ocorreram na Europa a partir de então.
O crescimento demográfico trazia um grande problema para o feudalismo que era a necessidade de ampliar a produtividade. Porém o modo de produção feudal tinha as suas limitações sendo que a principal delas era a alta tributação imposta pelos senhores feudais aos servos(talha, corvéia, banalidade, mão morta etc.), fazendo com que esses não tivessem o menor interesse em aumentar a produção, que naquele momento era insuficiente para atender as necessidades de consumo.
A marginalização social foi a conseqüência imediata do descompasso entre o aumento populacional e a baixa produtividade dos feudos. Os senhores feudais, buscando adequar o consumo a produção, expulsavam o excedente populacional de suas terras. Boa parte desse excedente estabeleceu-se em aldeias ou em antigos centros urbanos, outros viraram salteadores.
Em 1095 o papa Urbano II conclamou a cristandade a integrar as cruzadas, movimento militar de caráter religioso realizados pelos cristãos contra os muçulmanos. A intensa religiosidade do homem medieval foi de grande importância para a organização das cruzadas. A marginalização decorrente do crescimento demográfico, o direito de primogenitura , e o interesse comercial, principalmente dos mercadores das cidades italianas(Gênova e Veneza) que fica evidente a partir da quarta cruzada quando ocorre a retomado do mediterrâneo, que tinha se transformado em um lago árabe, pelos europeus que restabelecem o comércio entre ocidente e oriente.
As cruzadas foram importantes pois ajudou a Europa a despertar do seu sono feudal, abrindo caminho para o renascimento comercial e urbano que vai se processar na medida em que se intensificam a procura por mercadorias vindas do oriente.
As cidades de Gênova e Veneza , na Itália, vão se beneficiar com a retomada dos contatos comerciais entre ocidente e oriente através do mar Mediterrâneo, sobre o qual exercem controle do comércio, passando a monopolizar a distribuição das mercadorias orientais por todo continente europeu.
A intensificação das atividades comerciais no sul e no norte do continente europeu fez surgir várias rotas comerciais(terrestres e fluviais) e as feiras, como a de Champagne, que eram pontos de comércio temporário.
Esse “boom” comercial fez crescer a importância da moeda, que por sua vez realçou a demanda por metais preciosos(ouro e prata) para a cunhagem das moedas; deu novo impulso à atividade creditícia , o surgimento da letra de câmbio, tipo de título negociável no mercado com o objetivo de evitar, por motivos óbvios, o transporte de grande somas de dinheiro, além de reduzir os problemas ocasionados pelas diferentes moedas cunhadas nas diferentes cidades. Todas essas novidades expressavam uma nova modalidade de riqueza, cambiável, não fixa como a terra dos senhores feudais, dando destaque a um novo grupo social, os mercadores.
Com o renascimento da vida urbana e das atividades comerciais, os servos camponeses passaram a procurar as cidades para vender o seu excedente de produção ou até mesmo deixando a vida no feudo, para ali, na cidade, tentar melhor sorte.
Nas cidades medievais as atividades artesanais estavam sobre rigoroso controle das corporações de ofício, que eram associações que os artesãos organizavam com a intenção de regulamentar suas atividades. As corporações de ofício procuravam reservar o mercado da cidade aos seus membros, impedir a concorrência desleal entre os artesãos, controlar preços, salários e padrões de qualidade dos produtos. Essas associações também negociavam, quando era o caso, os impostos com os senhores feudais.



A CRISE DO SÉCULO XIV

O feudalismo sofreu um grande baque no século XIV, um século marcado pela fome, pela ação da peste negra e pela guerra dos cem anos. Acontecimentos que vão desestabilizar a precária economia feudal.
Visando aumentar a produção de alimentos para alimentar a população que aumentava, o homem medieval desmatou grandes áreas de florestas e assim foi possível atender o aumento do consumo, porém, chegou um momento em que esse artifício não podia mais ser posto em prática pois não haviam mais terras disponíveis para ampliar o cultivo. Veio então a fome e os males decorrentes de uma alimentação precária.
O intenso comércio entre o ocidente e o oriente despejou na Europa tapetes, porcelanas, sedas, especiarias e... ratos, e com os ratos, a peste negra. Cidades sujas e corpos mal alimentados só poderiam resultar em uma catástrofe demográfica. Praticamente 1/3 da população européia sucumbiu à peste. Cidades inteiras foram abandonadas. A grande mortandade fez faltar mão-de-obra nos feudos, as rendas dos senhores feudais caíram, levando-os a aumentar a exploração dos servos. Estouraram muitas revoltas camponesas como as famosas jaqueries, na França.
Para embolar ainda mais o meio de campo do feudalismo, França e Inglaterra estavam em guerra(guerra dos cem anos, 1337-1453). A origem desse conflito está na tentativa da França em retomar as terras de seu território que estavam nas mãos de nobres ingleses
É nesse contexto de grande instabilidade política e social que ficou claro que as tropas particulares de cada senhor feudal não bastava para restaurar a ordem diante de um levante camponês por exemplo. Era preciso criar um exército numeroso e bem equipado, capaz de reprimir os revoltosos em vários lugares e ao mesmo tempo se necessário.
Somente um Estado forte e centralizado teria condições de conseguir os recursos necessários para montar, armar e sustentar esse poderoso exército: nascia o Estado Absolutista, uma superarma nas mãos do rei e da nobreza feudal par “por ordem na casa” e assim prolongar a vida do feudalismo.
No absolutismo o poder estava centralizado nas mãos do rei, que na verdade era o representante da nobreza feudal. O monarca(rei) era absolutista não porque seu poder fosse ilimitado, mas porque ele estava acima das leis.
A burguesia apoiou a centralização política nas mãos do rei porque os particularismos de cada feudo eram um entrave ao desenvolvimento do comércio. O Estado absolutista, por sua vez, dava força aos negócios da burguesia pois quanto mais dinheiro a burguesia ganhasse mais o Estado arrecadaria através dos muitos impostos que os burgueses teriam que pagar ao Estado.
Para justificar o absolutismo, os reis foram apresentados como a própria encarnação da vontade de deus. Quem ousaria contrariar o todo poderoso? Esse tipo de argumentação ficou conhecida como teoria do direito divino dos reis.
O italiano Nicolau Maquiavel é certamente um dos principais teóricos do poder real. Ele defendia, entre outras coisas, que o rei tinha de ser racional na busca dos interesses do Estado e que a unidade política é fundamental para a grandeza de uma nação.
Outro grande teórico do absolutismo, Thomas Hobbes, considerava que inicialmente os homens viviam em estado de completa anarquia e que os indivíduos, de comum acordo , formaram o Estado Civil para se protegerem da violência. Daí teria resultado o poder ilimitado do Estado, fruto do consentimento dos seus súditos. Chamamos essa visão de Teoria Contratualista.


O MERCANTILISMO


A Europa absolutista retoma o crescimento econômico. No século XV tem início as Grandes Navegações e o descobrimento da América, que seria incorporada aos interesses europeus. O Estado absolutista teve um papel destacado nesse contexto, ele intervinha diretamente sobre a economia. O nome que se dá a essa intervenção é mercantilismo. Entende-se por mercantilismo o conjunto de idéias e práticas econômicas dominantes na Europa entre os séculos XV e XVIII, tendo por objetivo direto o fortalecimento do Estado e indireto o enriquecimento da burguesia.
Os elementos essenciais da prática mercantilista são: metalismo, balança de comércio favorável, política de monopólios, protecionismo e sistema colonial.

RENASCIMENTO CULTURAL

No campo da cultura e das artes ocorre uma verdadeira revolução que atende pelo nome de Renascimento. Expressa a visão de mundo da nova sociedade emergente diante do feudalismo em crise e do desenvolvimento da economia mercantil. O termo renascimento é decorrência da preocupação dos homens que viveram a época em se inspirarem nos valores e ideais da antigüidade clássica(greco-romana)por oposição aos valores medievais que desprezavam, tanto que o termo Renascimento pode levar a um equívoco: de que a arte e a vida cultural estavam mortas na Idade Média.
Não foi por acaso que a Itália foi o berço do Renascimento. Lá a tradição clássica era muito vigorosa, existiam cidades que alcançaram grande prosperidade econômica graças ao comércio, ricos mercadores passaram a financiar as produções artísticas, tornando-se mecenas, tendo por objetivo difundir hábitos e valores da classe social mais dinâmica da sociedade, ou seja, a burguesia mercantil.
As características marcantes do Renascimento são: o racionalismo, o individualismo, o antropocentrismo, o naturalismo e o hedonismo, em oposição aos valores medievais capitaneados pelo teocentrismo.


REFORMA PROTESTANTE E CONTRA-REFORMA

No tocante a religiosidade, a Europa cristã também passou por grandes transformações. No século XVI ocorreu a Reforma Protestante que representou uma grande revolução espiritual na época moderna, representando no nível religioso a passagem do feudalismo ao capitalismo.
A Reforma Protestante foi mais que uma reforma, pois ao romper a unidade do cristianismo no ocidente transformou a estrutura eclesiástica e a doutrina da salvação. Mudou, portanto, aspectos formais e de conteúdo.
Entre os fatores que impulsionaram o movimento das reformas podemos citar os de ordem: religiosos: o despreparo da maioria do clero, a necessidade de conter os “abusos” cometidos por membros da Igreja Católica como a venda de indulgências(perdão dos pecados), de relíquias sagradas e de cargos.

políticos: contradições decorrentes do universalismo da Igreja e a afirmação do Estado Nacional absolutista


sócio-econômicos: interesse da nobreza e da burguesia nas terras da Igreja; necessidade da legitimação do lucro através de uma nova ética econômica mais adequada à época moderna.


O início da ruptura religiosa se dá em 1517 quando o monge agostiniano alemão Martinho Lutero torna público as suas 95 teses e rompe com o papa Leão X. além de condenar a venda de indulgências, Lutero, questiona alguns dogmas da Igreja como por exemplo a infalibilidade do papa perante assuntos de religião. O apoio que Lutero obteve de boa parte dos príncipes alemães foi fundamental para o êxito da Reforma Protestante
Para Lutero a fé é o único caminho para a salvação sendo a Bíblia a única fonte para fé. Segundo ele o fiel deveria fazer a livre interpretação do livro sagrado dispensando qualquer tipo de intermediação.
Em 1536, João Calvino deu início a Reforma na Suíça. O calvinismo foi muito mais radical que a Reforma Luterana. Segundo Calvino as pessoas são predestinadas a se salvar ou não(teoria da predestinação). Somente os eleitos de Deus alcançarão a salvação. De nada adiantava ter fé ou praticar boas ações. Os calvinistas interpretavam a riqueza material como um sinal enviado por Deus aos eleitos. Essa doutrina foi facilmente assimilada pela burguesia que queria lucrar sem medo de ir parar no inferno.
Na Inglaterra a Reforma foi efetuada pelo rei Henrique VIII, que utilizou como pretexto para romper com a Igreja de Roma, o fato de que o papa se recusou a conceder o seu divórcio com Catarina de Aragão, que pertencia a casa real de Espanha. Na realidade o monarca inglês tinha outras motivações para romper com a Igreja Católica: escapar ao controle do papa e submeter a Igreja ao Estado, tomar as terras e os bens que a Igreja possuia na Inglaterra. Nascia a Igreja Anglicana cujo Ato de Supremacia de 1534, garantia ao Rei a chefia espiritual da Igreja.

Passado o susto inicial a poderosa Igreja Católica deu início a Contra-Reforma cujos pontos fundamentais foram:
Concílio de Trento: que negou qualquer valor às doutrinas protestantes, criou seminários, proibiu a venda de indulgências, criou o Índex(lista de livros proibidos)

Criação da companhia de Jesus: que teve grande importancia na expansão do catolicismo nas áreas recém conquistadas pelos europeus.

Reativação do Tribunal do Santo Ofício: responsável pela inquisição na Idade Média, foi reorganizado, passando a persiguir as vozes dissidentes.

Os principais reflexos da Reforma foram o rompimento da unidade cristã trazendo consigo o crescimento da intolerância religiosa; ruptura do poder político do papado e o fortalecimento do poder monárquico; guerras sob pretextos religiosos; expansão das práticas capitalistas, devido algumas doutrinas protestantes.

Todos esses episódios: crescimento demográfico, movimento cruzadista, renascimento comercial e urbano, a crise do século XIV, a formação das monarquias nacionais, a Expansão Marítima e comercial, o Renascimento Cultural, a Reforma Protestante e a Contra-Reforma são elementos de grande importância para entendermos como se processou o longo caminho que levou a progressiva superação do feudalismo rumo a implantação do modo de produção capitalista.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Textos p/ o 3º e 4º anos: Tarifa Alves Branco, Bill Aberdeen, Lei Eusébio de Queirós, Lei de Terras, Era Mauá, Questão Religiosa, Questão Militar e Qu

Tarifa Alves Branco, Bill Aberdeen, Lei Eusébio de Queirós, Lei de Terras, Era Mauá, Questão Religiosa, Questão Militar e Questão Abolicionista

Em 1844, foi criada a Tarifa Alves Branco. Tendo como objetivo aumentar, através da majoração das alíquotas sobre os produtos importados, as rendas governamentais. Ao encarecer os produtos estrangeiros, abriu-se um espaço para a produção nacional.
Os ingleses sentindo-se prejudicados, decretaram em represália o Bill Aberdeen (1845), que dava poder a sua marinha de perseguir negreiros onde quer que estivessem. Os ingleses resolveram “entrar de sola” contra o tráfico e a escravidão de africanos. A partir de então a pressão inglesa só aumentaria.
As reais motivações que levaram os ingleses a combater o tráfico de almas e a escravidão foram econômicas: os produtos de suas colônias não conseguiam concorrer em pé de igualdade com a produção de regiões escravistas. Devemos atentar que a Inglaterra abolira a escravidão em suas possessões em 1833.
De 1845 a 1850, os ingleses foram só pressão, até que o governo brasileiro resolveu por fim no tráfico atlântico. Em 1850 foi criada a Lei Eusébio de Queirós que ao contrário da que foi feita em 1831 apenas “para inglês ver”, foi feita para ser cumprida. A Lei Eusébio de Queirós representava um duro golpe na escravidão, que necessitava para sua manutenção, de reposição contínua de escravos. A princípio os efeitos da cessação do tráfico atlântico não foram sentidos, pois nos anos posteriores ao Bill Aberdeen, aumentou sensivelmente o número de escravos que entraram no Brasil. O tráfico interprovincial, deslocamento de escravos das regiões onde a economia estava em franca decadência para os cafezais do sudeste, foi utilizado pelos escravocratas como um paliativo.
A elite agrária se preocupava com a questão da mão-de-obra. Quem substituiria os cativos quando a escravidão acabasse? imigrantes?, nacionais?. Como fazer com que esses trabalhadores não “chutassem o balde” e se recusassem a ser explorados por essa elite? Devemos atentar que naquele momento existiam muitas terras públicas que poderiam ser utilizadas por esses trabalhadores como posseiros. É nesse contexto que, ainda em 1850, é implementada a Lei de Terras, determinando que a partir de então as terras públicas não poderiam ser mais adquiridas por doação ou posse, somente mediante a compra. O preço da terra deveria ser proibitivo, de forma que inviabilizasse o acesso a terra aos futuros trabalhadores, obrigando-os a vender a sua força de trabalho aos fazendeiros para sobreviverem.

Era Mauá

Após 1850 o Brasil conheceu um surto industrial, que pode ser explicado pela adoção da Tarifa Alves Banco que encareceu os importados e pela cessação do trafico atlântico que liberou grandes somas de dinheiro para outras atividades. Os lucros auferidos com o café também favoreceram a essa incipiente industrialização.
A figura de destaque desse período foi Irineu Evangelista de Souza (o barão, depois visconde de Mauá). Grande empreendedor, Mauá criou bancos; investiu em serviços públicos como iluminação à gás e abastecimento de água; criou a primeira ferrovia brasileira; empreendeu a montagem do cabo telegráfico submarino ligando o Brasil à Europa, entre outras atividades.
Mauá era um homem a frente do seu tempo. Isso lhe trouxe algumas dificuldades, além de inimigos poderosos dentro e fora do país. Não contando com o apoio governamental nos momentos decisivos, aliado a alguns erros de cálculo, Mauá faliu.


A Questão Religiosa

De acordo com a Constituição de 1824, a Igreja Católica estava subordinada ao Estado (regime do padroado), o que possibilitava ao Imperador intervir nos assuntos religiosos. Era ele que nomeava os bispos, por exemplo, além de arcar com a manutenção dos religiosos. As determinações de Roma só poderiam ser implementadas pela Igreja no Brasil se contasse com o beneplácito (autorização) do Imperador
No Brasil Império havia um grande número de pessoas importantes, inclusive membros da Igreja, ligados a maçonaria, embora tais ligações estivessem proibidas desde 1864, devido a Bula Syllabus do Papa Pio IX.
Em 1872, D. Vidal Maria (bisbo de Olinda e Pernanbuco) e D. Antônio Macedo(bispo de Belém do Pará) resolveram fazer valer a Bula Syllabus, que não contava com o placet do Imperador Pedro II, e resolveram punir os padres maçons de suas dioceses. Os bispos acabaram presos e condenados a 4 anos de trabalhos forçados. Após um arranjo político os bispos foram anistiados, porém tal constrangimento envolvendo o Império e a Igreja fez com que essa última não “movesse uma palha” pelo destino da Monarquia brasileira.

A Questão Militar

Durante o período Regencial, o Exército foi esvaziado. O padre Feijó, Ministro da Justiça da Regência Trina Permanente, criou a Guarda Nacional, uma milícia de proprietários, cuja patente máxima, a de coronel era entregue ao fazendeiro de “maior prestígio” da região. A criação da Guarda Nacional atendia aos anseios de uma elite agrária que não confiava no Exército para defender os seus interesses.
Quando nos anos de 1860, a situação na região platina ficou tensa, o Exército teve ser reaparelhado e reforçado. Entre 1865 e 1870 o Exército Brasileiro esteve envolvido na Guerra do Paraguai, o maior conflito militar da América do Sul. O Exército Brasileiro Atuou em conjunto com os exércitos da Argentina e do Uruguai, contra o Paraguai nesse conflito cujas causas, segundo pesquisas recentes, estão relacionadas aos problemas inerentes a formação dos Estados Nacionais na região platina.
Após a Guerra do Paraguai, o Exército Brasileiro tinha pretensões de participar efetivamente da vida do país. O governo imperial, entretanto, teimava em não reconhecer a importância adquirida pelo Exército dentro da sociedade brasileira, relegando-o a posição secundária.
A crise envolvendo o Império e os militares tiveram início em 1883, quando o tenente-coronel Sena Madureira protestou através da imprensa devido ao atraso do pagamento da pensão para os familiares das vítimas e para os militares que voltaram mutilados da Guerra do Paraguai. A irritação do oficial era devido ao fato de que se passara 13 anos e nada de pensão. A partir daí ocorreram punições por parte do governo e novos incidentes envolvendo militares. O desgaste entre governo e militares levou esses últimos a aderirem paulatinamente ao republicanismo. Era um outro pilar de sustentação imperial que desabava.

O Abolicionismo


Após a Guerra do Paraguai (1865 – 1870) muitos oficiais voltaram convertidos ao abolicionismo. Em todo país a idéia de por fim a escravidão ia conquistando novos adeptos. Para acalmar as forças que se opunham à escravidão, o governo aprovou em 1871, a Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, que previa a liberdade para os filhos de escravas nascidos após essa data. As crianças ficariam sob a guarda do dono da escrava até completar oito anos de idade, quando o senhor poderia optar entre receber uma indenização pela liberdade da criança, ou explorar o seu trabalho até que ela completasse 21 anos.
No final da década de 1870, observa-se o crescimento da campanha abolicionista. Entre os abolicionistas verificam-se duas tendências: uma moderada, que defendia a luta parlamentar para se alcançar o fim da escravidão. Entre os moderados podemos destacar José do Patrocínio e Joaquim Nabuco.
A outra tendência, mais radical, defendia que a luta pelo fim da escravidão deveria ser encaminhada pelos próprios escravos, cabendo aos abolicionistas apenas incentivar a luta dos cativos, dando o suporte necessário para que os escravos conseguissem a sua liberdade. Entre os radicais destacam-se Luís Gama, André Rebouças e Antônio Bento (lider dos Caifases).
Em 1885, foi promulgada a Lei Saraiva-Cotegipe (Lei dos Sexagenários) mais uma tentativa do governo de adiar o fim da escravidão no Brasil. Essa Lei previa liberdade aos cativos que tivessem 60 anos ou mais. Algumas disposições da Lei dos Sexagenários acabavam por prolongar a agonia dos ex-escravos até aos 65 anos, quando realmente seriam livres.
Finalmente no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo definitivamente o trabalho escravo no Brasil. A Lei Áurea, que não contemplava nenhum tipo de indenização aos donos de escravos acabou sendo desastrosa para os destinos da Monarquia no Brasil. Os fazendeiros escravistas que constituíam o principal pilar de sustentação do Império aderiram ao Movimento Republicano (Republicanos do 13 de maio). Como veremos a Monarquia caiu de madura.

domingo, 30 de março de 2008

textos p/ 3º e 4º ano 2009: Imperialismo e Neocolonialismo

As inovações técnicas ocorridas na segunda metade do século XIX, convencionou-se chamar de segunda Revolução Industrial, foram na verdade a utilização de novas fontes de energia (petróleo e electricidade) que possibilitaram o surgimento de novas indústrias e o desenvolvimento dos transportes e comunicações. Simultaneamente, ocorreram transformações de ordem estrutural: o capitalismo liberal foi suplantado pelo capitalismo monopolista, devido à concentração de empresas e limitando a concorrência.
O capitalismo monopolista e financeiro (1870-1945), corresponde a segunda fase do sistema capitalista, é marcado pela forte concentração empresarial.
A concentração desenvolveu-se através de duas formas: a vertical e a horizontal.
Concentração horizontal: efetua-se o domínio de um determinado setor (ou fase) da produção de uma mercadoria. Ex.: domínio da fase do refino do petróleo e/ou sua distribuição.
Concentração vertical: Grupo de empresas que tende a dominar todas as fases de um processo produtivo, desde a produção de matérias-primas até a fabricação final ou comercialização.
No Capitalismo Monopolista tivemos vários tipos de concentração e integração, geralmente conhecidos como cartéis, trustes e holdings.

Cartel: Acordo comercial entre empresas produtoras, as quais, embora conservem a autonomia interna, se organizam em sindicatos para distribuir entre si cotas de produção e os mercados, e determinar os preços, suprimindo a livre concorrência.

Trust: Associação financeira que realiza a fusão de várias firmas em uma única empresa.

Holding: Não ocorre a fusão, porém uma empresa central controla outras subsidiárias; ainda que estas juridicamente sejam autônomas, a maioria de suas ações pertence à empresa central.

O imperialismo é a subjugação de um ou mais países capitalistas sobre outro país. A concentração capitalista e o protecionismo alfandegário elevado levaram ao estágio do imperialismo, isto é, à exportação de capitais excedentes e à dominação de mercados, inclusive sob a forma de colonialismo na África e na Ásia.
Obs.: Imperialismo – impulso dominador de caráter econômico (mais geral).
Colonialismo – aquelas formas em que se acrescentou ao domínio econômico o domínio político, geralmente estabelecido através da conquista militar.

O neocolonialismo concretizou-se de várias formas, das quais destacamos:

Os protetorados, em que se mantinham os chefes locais, mas os funcionários metropolitanos exerciam de fato o controle da economia e da política.
Ex.: Marrocos (França), o Egito e a Índia (Inglaterra).
As colônias propriamente ditas, em que se procedia a uma completa ocupação territorial, com a implantação de um aparelho político-administrativo e militar. Subdividiam-se em: colônias de enraizamento e de enquadramento. Colônias de enraizamento - povoamento europeu e expropriação das terras nativa. Ex.: Argélia, Angola e África do Sul.

Colônias de enquadramento – minoria européia, que exercia as funções administrativas, apoderava-se do excedente de produção sem se apropriar das terras nativas. Ex.: colônias inglesas na África.

Áreas de influência, em que diversas potências procuravam obter vantagens e privilégios exclusivos.
Ex.: China.










Texto para o 3º e 4º ano:A Primeira Guerra Mundial

A hegemonia européia no início do século XX era incontestável, tanto no plano econômico como no político. No nível econômico a Europa controlava a maior parte da produção mundial, dominando a economia dos países coloniais. No nível político, controlava os países africanos e asiáticos através de uma dominação efetiva no local e exercia influência nos países latino-americanos.
As origens da Primeira Guerra Mundial ligam-se à disputa colonialista entre as potências européias industrializadas ao nacionalismo agressivo que justificava o imperialismo, à corrida armamentista e navalista, e aos acordos e alianças que tornaram frágil o equilíbrio europeu.
No continente europeu existiam inúmeros pontos de atrito entre as potências, os quais geraram antagonismos, tais como: França e Alemanha atritavam-se por causa da Alsácia-Lorena e Marrocos; a Inglaterra sofria os efeitos da expansão econômica e naval alemã; Rússia e Áustria tinham rivalidades nos Balcãs; Rússia e Alemanha disputavam o controle do Estreito de Dardanelos; a Áustria tinha conflitos com o nacionalismo da Sérvia; em virtude da ocupação da Bósnia-Herzegovina em 1912 pela primeira.
Esse clima de tensão corrobora a formação de dois sistemas de alianças: a Tríplice Aliança, bloco militar formado pela Áustria-Hungria, Alemanha e Itália; a Tríplice Entente englobava uma aliança militar (França e Rússia) e dois acordos (França e Inglaterra – a Entente Cordiale – e Inglaterra e Rússia).
O sistema de alianças proporcionou um clima de tensão, que bastava um incidente para desencadear um conflito generalizado. É o que ocorre em julho de 1914, quando o Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, por um estudante da Bósnia-Herzegovina, região reinvidicada pela Sérvia.
A guerra tornou um caráter mundial que envolveu as colônias dos países em conflito. Formando dois blocos: os Aliados (Inglaterra, França, Rússia, Japão e Bélgica, e depois Itália e EUA; e as Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Húngria, Turquia e Bulgária).
O ano de 1917, foi decisivo para a guerra, em virtude da entrada dos EUA ao lado dos Aliados e a saída da Rússia do conflito, devido à Revolução Socialista.
Os problemas surgidos com a guerra, trouxe repercussões e a necessidade de novas atitudes e comportamentos nos níveis econômicos, político e social, tais como: 1. uma intervenção cada vez maior do Estado na vida econômica, o endividamento da Europa, o início da hegemonia dos EUA; 2. preponderância do Executivo sobre os Parlamentos, devidos à urgência das decisões; supressão das liberdades políticas, recrudescimento das greves; oposição de diversos setores, sobretudo os socialistas, à greve e às autoridades militares; e, o mais importante, a derrubada do czarismo na Rússia.
Os principais efeitos da guerra foram: a vitória dos princípios liberais e democráticos; o desaparecimento dos Impérios Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Turco; a adoção do regime republicano em quase todos os países e, posteriormente, o surgimento de ditaduras; o estabelecimento do regime socialista na Rússia; surgimento de novos Estados; início da Descolonização; os fascismos etc.
A Conferência de Paris, em que se destacaram as figuras de Clemenceau (França), Lloyd George (Inglaterra) e Wilson (EUA), determinou a assinatura de tratados em separado com os vencidos. Os tratados foram: o Tratado de Versalhes, com a Alemanha; de Saint-Germain, com a Áustria; de Trianon, com a Húngria; de Nevilly, com a Bulgária; de Sévres, com a Turquia.
O Tratado de Versalhes regulava a paz com a Alemanha e lhe impunha pesadas condições. Significou a “Revanche” da França à derrota de 1871 (Guerra Franco-Prussiana). Estabelecia a devolução de territórios (Álsácia-Lorena) e a concessão de outros (Sarre) à França; a perda de colônias; o pagamento de pesada indenização de guerra; a desmilitarização; tudo isso agravando as rivalidades, que se manifestariam duas décadas mais tarde, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.









































Estado Nacional: Absolutismo e Mercantismo



Entre os séculos XII e XV, ocorreram diversas transformações no solo europeu, entre essas alterações podemos destacar o renascimento comercial e consequentemente o progressivo crescimento urbano.
No final do século XIII, o feudalismo entra em crise. O desenvolvimento da produção que ocorreu nos séculos anteriores(a partir do século X)deveu-se mais pela incorporação de novas terras ao cultivo do que pelo domínio de tecnologia agrícola que naquele momento ainda era bastante precárias. Com o passar dos anos, já não havendo mais novas terras para a ampliação do cultivo e devido a uma utilização predatória das terras utilizadas, não demorou muito para que o solo europeu desse sinais de esgotamento.
O desmatamento de imensas áreas que seriam incorporadas ao cultivo acarretou profundas alterações climáticas, onde períodos excessivamente chuvosos eram seguidos por longos períodos de seca, consequentemente levando a diminuição da já insuficiente produção agrícola.
A escassez de alimentos contribuiu para fragilizar os corpos dos indivíduos, minando a resistência da população, de forma que quando a peste negra(peste bubônica, doença transmitida pela pulga do rato) desembarca na Europa vinda do Oriente, é capaz de dizimar 1/3 da população européia.
O alto índice de mortalidade acarretou a diminuição da mão-de-obra. Porém a essa altura a nobreza feudal já não podia viver sem os produtos luxuosos que vinham do oriente, esses produtos como bem sabemos custavam caríssimos, o que fizeram os nobres? Passaram a explorar ainda mais os servos que sobreviveram a ação da peste negra.
Porém os servos reagiram a exploração senhorial que naquele momento tornara-se mais intensa: muitos fugiram para as cidades, já outros passaram a atacar em bandos as propriedades da nobreza feudal, como exemplo podemos citar as rebeliões camponesas que ocorreram na França : as Jacqueries.
Diante de tal quadro a nobreza feudal, atemorizada pelas revoltas camponesas que sacudiam a Europa, perceberam que era necessário que se fizesse uma mudança na estrutura de poder para que ela continuasse a ser a grupo social dominante.
Essa mudança atende pelo nome de Estado Nacional. Um Estado onde o poder político, ao contrário do que ocorria anteriormente, estava centralizado nas mãos do rei. A esse tipo de governo em que o poder político está centralizado nas mãos de um rei dá-se o nome de Monarquia Absolutista.
Muitos livros didáticos insistem em afirmar que o Estado absolutista é fruto da aliança entre o rei e a burguesia com o intuito de submeter a nobreza feudal. Segundo esses autores o rei não via com bons olhos o fato de ter em seus reinos homens com tanto e as vezes até com mais poderes do que ele. E à burguesia interessava o fortalecimento do rei uma vez que a descentralização política era prejudicial aos seus negócios como já vimos em aulas anteriores.
Um outro caminho, o qual eu prefiro percorrer, é apontado pelo historiador inglês Perry Anderson, um especialista no assunto, que em sua obra Linhagens do Estado Absolutista nos mostra que o absolutismo foi a fórmula encontrada pela nobreza feudal para submeter as revoltas camponesas que ameaçavam o seu domínio. É por isso que os senhores feudais aceitam transferir parte dos seus poderes para as mãos do rei(que também era um nobre como eles).
Podemos então concluir que temendo o pior a nobreza feudal “preferiu entregar os anéis para conservar os dedos”.
Estabelecido o absolutismo era necessário justificá-lo, então vamos lá: segundo Jean Bodin(jurista francês)e Jacques Bossuet(religioso) a autoridade do rei vinha de Deus, o rei seria o representante de Deus na terra portanto contrariar a vontade do rei implicava contrariar a vontade de Deus. Quem ousaria? Esse tipo de justificativa ficou conhecida como a teoria do direito divino dos reis. Outra justificativa significativa foi a teoria contratualista. Na sua obra: “Leviatã”(nome do monstro fenício do caos)Thomas Hobbes(filósofo)coloca que em uma fase posterior, os homens dotados da razão, do sentimento de autoconservação e de defesa buscam superar o estado natural de destruição unindo-se para formar uma sociedade civil, mediante um contrato segundo o qual cada um cede seus direitos ao soberano. Hobbes conclui que a autoridade do rei deve ser absoluta, a fim de proteger os cidadãos contra a violência e o caos da sociedade primitiva.
É importante salientar que o surgimento dos Estados Nacionais com o poder político centralizado nas mãos do rei não significou o fim do modo de produção feudal, uma vez que as relações sociais de produção permaneceram essencialmente feudais.
A formação dos Estados Nacionais como bem sabemos não se deu da mesma forma, nem ao mesmo tempo. A Alemanha e a Itália por exemplo só se constituíram enquanto Estado Nação na segunda metade do século XIX.
Um outro dado que deve ser colocado em relação ao Absolutismo diz respeito ao fato que a sua definição: “centralização dos poderes nas mãos do rei” pode nos dar a falsa idéia de que o rei governava sozinho, de que ele estava “acima da sociedade”. Normalmente qualquer governante precisa de uma sólida base de apoio social, sem a qual seria quase impossível governar . E, desta forma, assumem determinados compromissos e recebem pressões às quais o governante não pode se furtar. No caso da monarquia absolutista essa base de sustentação era a nobreza e o alto clero.
Na Economia, o Absolutismo correspondeu ao período de transição do feudalismo para o capitalismo, quando a burguesia, sob a proteção do Estado Absolutista, acumulou capitais e condições para mais a frente implantar o modo de produção capitalista.
No plano político, a formação do Estado Absolutista correspondeu a uma necessidade de centralização do poder nas mãos do monarca(rei), par controlar a grande massa de camponeses e adequar-se ao surgimento da burguesia.
Aos nobres o rei concedia pensões, honrarias, privilégios fiscais e judiciários, além dos rendimentos dos melhores cargos do Estado que eram reservados para os membros da nobreza.
Os burgueses também aceitavam as imposições do Estado Absolutista. Afinal, desenvolvendo e incentivando o comércio e as manufaturas, organizando a expansão marítima e a exploração das colônias, o rei garantia-lhes fontes de lucros e meios de enriquecimento.



A EXPANSÃO MARÍTIMA E AS PRÁTICAS MERCANTILISTAS
A partir do século XI, o comércio entre a Europa e o Oriente ganhou novo impulso com as cruzadas (expedições militares de caráter religioso que tinha como objetivo expulsar os muçulmanos que ocupavam Jerusalém, local onde estaria enterrado o corpo de Jesus Cristo.)
Inegavelmente, a religiosidade do homem medieval foi um fator importante para a organização das cruzadas. Porém, outros fatores, como a marginalização crescente decorrente do crescimento populacional e da persistência do direito de primogenitura, segundo o qual somente o filho mais velho do senhor feudal herdava as suas propriedades. Forem igualmente importantes na construção do movimento cruzadista.
Para os setores marginalizados, não incorporados ao processo de produção, e para os nobres sem feudos, as cruzadas representavam, então, uma oportunidade de aventura, e mais ainda, a possibilidade de enriquecimento.
Os europeus não conseguiram alcançar o seu objetivo religioso através das cruzadas, porém, o comércio entre Ocidente e Oriente entrou em um ritmo frenético. Os mercadores europeus principalmente os das cidades italianas, Gênova e Veneza, traziam do Oriente sedas, tapetes, perfumes, porcelanas e principalmente as especiarias (cravo, canela, gengibre, pimenta) que eram caríssimas na Europa.
Tais produtos saíam do Oriente e até chegar as mãos dos consumidores europeus percorriam um longo trajeto por terra e depois por mar, passando por diversos intermediários, o que aumentava os seus preços.
Para pagar pelos produtos que vinham do Oriente, a Europa necessitava de grande quantidade de moedas, que resultou na escassez de metais preciosos. Produtos caros e falta de ouro e prata tornaram urgente uma expansão marítimo-comercial, a fim de encontrar uma nova rota para o Oriente, as rotas até então existentes eram monopólios (exclusividade) das cidades italianas (Gênova e Veneza) e dos árabes.
O expansionismo marítimo europeu, com as grandes navegações, resultou das mudanças ocorridas na transição da Idade Média para a Idade Moderna: o Renascimento comercial e urbano. As crises do século XIV, a formação do Estado Nacional, o aperfeiçoamento técnico, como o uso da bússola por exemplo.
A burguesia, classe ligada ao comércio, pressionava o Estado a buscar e descobrir novos mercados. Os reis por sua vez, tinham interesse em ampliar suas rendas, para adquirir maior poder.
O primeiro Estado a se lançar nesta aventura foi Portugal, e isso não ocorreu acaso. Portugal foi o pioneiro na expansão marítima devido a uma série de fatores, como por exemplo: a precoce centralização do poder nas mãos do rei; o fato de possuir um grupo mercantil bastante dinâmico também contribuiu para o pioneirismo português.
A expansão portuguesa começou com incursões ao continente africano. O pontapé inicial foi a tomada de Ceuta em 1415. Da África os portugueses retiravam ouro, marfim e escravos, além de um tipo de pimenta de qualidade inferior as do Oriente. Em 1488 Bartolomeu Dias consegue transpor o Cabo das Tormentas, posteriormente batizado como Cabo da Boa Esperança, pois por ele tinha-se acesso ao Oceano Índico. Faltava pouco para que os portugueses conseguissem concretizar o sonho de chegar às Índias Orientais. É claro que os resultados dessas viagens eram segredos guardados a sete chaves tanto que até hoje não temos documentos que comprovem se o descobrimento do Brasil se deu por acaso ou se Cabral tinha ordens explícitas para se desviar da rota e comprovar a existência de terras desconhecidas.
Em 1498, Vasco da Gama chegava a Calicute na Índia, seguindo a rota de Bartolomeu Dias. A descoberta de Vasco da Gama assegurou o acesso direto dos portugueses às especiarias, e aos demais produtos do Oriente inaugurando um comércio altamente lucrativo para Portugal. Dois anos após Vasco da Gama chegar às Índias, Cabral aporta a 21 de abril de 1500 em terras do Brasil.


AS PRÁTICAS MERCANTILISTAS
Entende-se por mercantilismo o conjunto de idéias e práticas econômicas dominante na Europa entre os séculos XV e XVIII, fase correspondente à transição do feudalismo ao capitalismo, portanto a era de acumulação primitiva de capital.
A política mercantilista tinha como objetivo direto o fortalecimento do Estado, e indireto o enriquecimento da burguesia.
Entre as principais idéias que marcaram o mercantilismo podemos destacar as seguintes:
· Metalismo -> considera-se que a riqueza de um Estado dependia da quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que ele acumulasse. A Espanha possuidora de colônias ricas em ouro e prata foi o país que mais se destacou na concepção metalista.

·Balança de Comércio Favorável -> “quem não tem cão caça com
gato” , diz o ditado popular, quem não possuía colônias ricas em ouro e prata devera procurar alcançar uma Balança de Comércio Favorável, o que significa vender mais para fora (exportar mais do que importar). Em busca de uma Balança Comercial Favorável, a França, por exemplo, incentivou a produção manufatureira de artigos d luxo. Já a Inglaterra sem a tradição francesa dos artigos de luxo investiu na construção naval, na criação de companhias de comércio, como a das Índias Orientais.

·Protecionismo -> para que a balança de comércio fosse favorável, o Estado mercantilista interferia na economia de dois modos principais: incentivou os setores produtivos e dificultou a importação de produtos concorrentes, utilizando para isso a adoção elevadas tarifas alfandegárias.


OS TIPOS DE MERCANTILISMO
Ao ser colocado em prática por diferentes países europeus, o mercantilismo foi adquirindo características específicas. Tendo em vista as condições econômicas desses países.
O mercantilismo espanhol foi acentuadamente metalista, obviamente devido a grande quantidade de ouro e prata que esse país retirava de suas colônias da América. Devido a facilidade que a Espanha tinha de obter metais preciosos, a Espanha não procurou desenvolver manufaturas, importando todos os produtos de que necessitava. Tal procedimento se mostrou desastroso pois em pouco tempo a Espanha perderia a hegemonia (domínio) mundial.
O mercantilismo francês, denominado Colbertismo devido as ações desenvolventistas de Colbert, ministro das finanças de Luís XIV voltou-se para o desenvolvimento das manufaturas de artigos de luxo que encontrariam mercado na sofisticada corte espanhola.
Já na Inglaterra, as práticas mercantilistas voltaram-se para o fortalecimento do comércio através do controle do transporte marítimo dos produtos que saiam dos portos ingleses ou que lá chegavam.


O SISTEMA COLONIAL
Dentro do contexto da transição do feudalismo ao capitalismo, a América ofereceu contribuição relevante na medida em que da América principalmente a Ibérica (portuguesa e espanhola) saíram os recursos, sob a forma de metais ou produtos tropicais, que permitiram acumulação de capital na Europa.
Dentro da linha de pensamento mercantilista a colônia existe em função das necessidades da metrópole e cumpre o seu papel na medida em que contribui para a manutenção da balança comercial favorável da metrópole. Compete a Colônia fornecer matérias-primas e produtos agrícolas a baixo custo para a sua respectiva Metrópole e dela comprar produtos manufaturados por preços elevados. A economia colonial para atender aos princípios mercantilistas adotados pelos Estados europeus deveria ser complementar a economia metropolitana sem jamais com ela concorrer
Como fica claro no parágrafo acima a exploração colonial orientou-se pela política mercantilista, dentro dos quadros do monopólio, do protecionismo e da economia complementar. As relações entre a Colônia e a Metrópole era regida pelo Pacto Colonial também chamado monopólio comercial ou exclusivo colonial.
Apesar do nome, o pacto (sugere a idéia de acordo mútuo) era uma imposição da Metrópole. Assim a Colônia se via obrigada a:
1.só comerciar com a Metrópole
2.só produzir o que não contrariasse os interesses metropolitanos. O que significava a impossibilidade por exemplo de se desenvolver uma produção manufatureira.
Novamente devemos atentar para o fato de que por mais que a adoção de exclusivo colonial impedia o desenvolvimento da Colônia, uma vez que a Metrópole impunha e restringia, havia alguns furos nesse esquema. O contrabando mostra que era possível driblar o pacto colonial, um outro detalhe reside no fato que a Colônia com o passar dos anos desenvolveu uma dinâmica própria, e nem sempre os interesses coloniais iam de encontro com os interesses metropolitanos, o que deixa claro que a Colônia era algo mais que um mero apêndice da metrópole.
Da mesma forma que o mercantilismo variou de acordo com as possibilidades de cada país, a colonização também não foi una, variando de acordo com as áreas coloniais.
Podemos estabelecer dois tipos de colonização: Colônias de Exploração e Colônias de Povoamento.
Podemos afirmar que as nações européias quando partiram para conseguir colônias, o fizeram com o objetivo de sugar dessas áreas a maior quantidade de riqueza possível.
Quando os espanhóis chegaram a América para a felicidade deles e infelicidade de Incas e Astecas encontraram grandes quantidades de metais preciosos. Os portugueses quando aportaram aqui em 1500, de interessante comercialmente só encontraram o pau-brasil, que devido ao comércio das especiarias com o Oriente, ficava relegado a segundo plano, o que explica o fato de que somente 30 anos após o descobrimento e no momento em que o comércio das especiarias com o Oriente entra em declínio é que Portugal se volta para o Brasil.
No entanto quando os ingleses chegaram na área em que hoje se situa os Estados Unidos, o colonizador inglês não descobriu nem metais preciosos, como no caso espanhol, nem a possibilidade de produzir algum produto que alcançasse preços elevados no mercado europeu como no caso português, com o açúcar, uma vez que o solo e o clima eram muitos semelhantes aos da Europa. Então o que se plantasse lá não seria raro e nem caro na Europa. Logo o modelo de Colônia de exploração não poderia ser implementado na sua totalidade no território norte-americano.
Na impossibilidade de explorar as 13 colônias que deram origem aos EUA os ingleses resolveram povoar essas colônias. Os ingleses que vieram colonizar os Estados Unidos saíram da Inglaterra basicamente por dois motivos: as perseguições religiosas e as expulsões de camponeses devido aos enclosures (cercamento dos campos para a criação de ovelhas). Essas pessoas vieram para a América para morar, reconstruir as suas vidas, ao contrário por exemplo de grande parte dos colonos portugueses que vieram para o Brasil com a mentalidade de enriquecer e voltar a Portugal.
Devido as características da colonização dos Estados Unidos pelos ingleses (Colônia de povoamento) predominou a pequena propriedade familiar, baseado no trabalho livre o que possibilitou a dinamização de um mercado interno. A economia era baseada na policultura e no incentivo as manufaturas(centro-norte). É importante ressaltar que o sul dos EUA estava enquadrado no sistema colonial, lá predominava o latifúndio, o trabalho escravo e monocultura (algodão) voltada para o mercado externo.
Já no caso da América Ibérica as colônias se enquadraram totalmente no sistema colonial como colônia de exploração baseadas no latifúndio, na monocultura e no trabalho compulsório(escravo).
É o tipo de colonização que vai explicar por exemplo o êxito dos Estados Unidos (uma das grandes potências mundiais, que foi Colônia de povoamento) em detrimento de países como o Brasil(país subdesenvolvido) que foi colônia de exploração. Nunca é demais ressaltar que os países que compõem o G7, o grupo dos 7 países mais ricos do mundo, nenhum foi colônia de exploração.
Lembrem-se disso quando ouvirem tolices do tipo: “o Brasil é um país subdesenvolvido porque foi descoberto e colonizado pelos portugueses” que na realidade traz implícito a seguinte idéia: se o Brasil fosse por ventura descoberto e colonizado pelos ingleses a nossa sorte seria outra. Lembrem-se que a Jamaica foi Colônia inglesa, só que colônia de exploração, e situação da Jamaica é pior do que a nossa. Fica claro que é o tipo de colonização que explica o êxito ou não de uma ex-colônia.












A Crise Feudal

A transição do Feudalismo para o Capitalismo
● Momento de crise
No século XIV, na Europa Ocidental, a população vivia dentro de determinadas características, que vinham sendo construídas desde o século III, e às quais denominamos Feudalismo. As relações de produção se baseavam no trabalho servil prestado fundamentalmente nas terras dos “senhores feudais”: os nobres e os elementos da alta hierarquia da Igreja Católica.
O crescimento da população, verificado entre os séculos XI e XIV, foi extraordinário. Os nobres aumentaram em número e tornaram-se mais exigentes com relação aos seus hábitos de consumo: isso determinava a necessidade de aumentar suas rendas e para consegui-lo, aumentou-se grandemente o grau de exploração da massa camponesa. Esta superexploração produziu protestos dos servos, consubstanciados em numerosas revoltas e fugas para as cidades. A repressão a esses movimentos foi enorme, mas a nobreza e o alto clero tiveram razões para temer por sua sobrevivência.
Paralelamente, importantes alterações do quadro natural provocaram sérias conseqüências. Durante o século XIII ocorrera uma expansão das áreas agrícolas, devido ao aproveitamento das áreas de pastagens e à derrubada de florestas. O desmatamento provocou alterações climáticas e chuvas torrenciais e contínuas, enquanto o aproveitamento da área de pastagens levou a uma diminuição do adubo animal, o que se refletirá na baixa produtividade agrícola. Com as péssimas colheitas que se verificaram, ocorreu uma alta de preços dos produtos agrícolas. Os europeus passaram a conviver com a fome.
Os índices de mortalidade aumentaram sensivelmente e, no século XIV, uma população debilitada pela fome teve que enfrentar uma epidemia de extrema gravidade: a Peste Negra, que chegou a dizimar cerca de 1/3 dos habitantes da Europa.
O homem medieval via a peste como um castigo divino. Entretanto, se analisarmos todos os dados referentes à habitação, higiene, alimentação e saúde, veremos que o caráter pandêmico da praga derivou da precariedade de todos estes aspectos, e de sua homogeneidade mais ou menos acentuada em todo o território europeu. A "morte negra" provavelmente não teria ocorrido se as condições de moradia ou higiene fossem outras, pelo menos não na extensão que ocorreu. Durante o apogeu do Império Romano, havia cidades muito maiores, mas as condições de habitação e saúde eram muito superiores.
A peste foi um fenômeno característico de um mundo em mutação. Foi o alto preço pago por um continente que começava a se abrir para o resto do mundo através do aumento das relações comerciais, mas que ainda vivia em um ambiente concebido para uma vida isolada e auto-suficiente. Sob este aspecto, a praga teve um lado positivo, ao obrigar o homem ocidental a mudar a sua forma de se relacionar com o meio ambiente, ensinado-o o valor do planejamento urbano e da higiene, além de expor a fragilidade da ciência médica medieval e, conseqüentemente, possibilitar sua evolução, livrando-a, pelo menos para alguns, da ignorância e da superstição.



Agravando ainda mais o complexo quadro de crise feudal, temos o conflito entre a França e Inglaterra, conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Durante um longo período, que se estendeu por 116 anos (1337-1453), ingleses e franceses disputaram entre si, principalmente, a propriedade de regiões economicamente importantes que interessavam aos dois reinos, originando um conflito acentuado caráter feudal. Para compreendermos as origens dessa antiga rivalidade franco-inglesa, é preciso resgatar o Tratado de Paris (1259). Através desse documento, Henrique III da Inglaterra se comprometia, junto a Luís IX da França, a abandonar suas pretensões territoriais sobre a Normandia, Maine, Anjou, Touraine e Poitou, mas conservava a Gasconha (feudo concecido pelos franceses à Coroa inglesa). No entanto, boa parte do Ducado de Gasconha estava nas mãos de senhores insubmissos que ignoravam o poder do Rei inglês. Era comum os vassalos gascões apelarem ao Rei francês contra as decisões impostas pelas autoridades inglesas na região, originando-se aí constantes conflitos entre França e Inglaterra. Mas, o ponto principal de discórdia e rivalidade entre os reinos inglês e francês concentrava-se na disputa territorial pela região de Flandres. Essa região era economicamente importante e atraía interesses de ambos, em virtude do seu próspero comércio e indústria têxtil. Os flamengos eram grandes consumidores de lãs inglesas, por isso Flandres e Inglaterra estabeleceram uma aliança comercial, não aceita pelos franceses, também interessados na região. Em suma, Flandres estava vinculada economicamente à Inglaterra, mas, politicamente, pertencia ao Reino da França, que não admitia a interferência inglesa na região.
Movidos, portanto por ambições territoriais e questões dinásticas (problemas de sucessão imperial), os exércitos de França e Inglaterra provocaram um conflito feudal que se estendeu por mais de um século. No entanto, vale lembrar que, na prática, houve períodos de paz e de paralisação (inatividade) dos combates franco-ingleses durante a guerra
Não bastasse a fome, a peste e as guerras, dificuldades econômicas de toda ordem assolavam a Europa, que passou a conviver com um outro problema: o esgotamento das fontes de minérios preciosos, necessários para a cunhagem de moedas, levando os reis a constantes desvalorizações da moeda. Isso só fazia agravar a crise.
No plano social, ao lado dos problemas já levantados, importa verificar o crescimento de um novo grupo: as burguesias comerciais, residentes em cidades que tendiam para uma expansão cada vez maior, pois passaram a atrair os camponeses e os elementos “marginais” da sociedade feudal.
Politicamente, a crise se traduz pelo fortalecimento da .autoridade real, considerado necessário pela nobreza, temerosa do alcance das revoltas camponesas. A unificação política, ou surgimento dos Estados Nacionais, aparece, desta forma, como uma solução política para a nobreza manter sua dominação.
Finalmente, a crise se manifesta também no plano espiritual—religioso. Tantas desgraças afetaram profundamente as mentes dos homens europeus, traduzindo-se em novas necessidades espirituais (uma nova concepção do homem e do mundo) e religiosas (a igreja Católica não conseguia atingir tão facilmente os fiéis, necessitados de uma teologia mais dinâmica).

sexta-feira, 28 de março de 2008

A Reforma - ISERJ - 1º ano 2011

Convencionou-se denominar Reforma o conjunto de fatos que abalaram a Igreja Católica no início da Modernidade. Na realidade, trata-se do aparecimento de novas religiões(a Reforma Protestante) e do movimento de reação da Igreja católica (a Reforma Católica).
Já desde o século XIV que a crise religiosa se fazia sentir com mais intensidade, gerando alguns movimentos de reforma que, no entanto, foram considerados heráticos pela Igreja, sendo os responsáveis por eles eliminados do seio católico. Tal foi o caso, por exemplo, de Wycliff, na Inglaterra e huss, na Boêmia.
No início do século XVI, aquilo que parecia uma heresia a mais terminou por produzir uma profunda brecha na Igreja. O monge Martinho Lutero, alemão, quationou a validade das indulgências que estavam sendo vendidas pela Igreja Católica, e na sequência do seu protesto, passou a discutir outros dógmas e doutrinas católicas. foi excomungado pelo Papa Leão X, mas conseguiu o apoio de alguns príncipes alemães. Daí surgiu a primeira de uma série de novas religiões: a Luterana.
No entanto, não se deve pensar que a Reforma Protestante era fruto exclusivo das iniciativas ou do pensamento de Lutero. a necessidade de uma mudança nas doutrinas católicas era já sentida. a ausência dos bispos em suas dioceses era muito notada. O despreparo do clero saltava a vista. Numa época em que as pessoas se sentiam inseguras frente à vida, o clero não estava conseguindo atingir a população com suas pregações. Nunca o povo europeu manifestou sua religiosidade como nessa época, e, provavelmente por isso mesmo, passou-se a questionar seriamente a necessidade de sacerdotes. A idéia de que cada um poderia ser sacerdote de si mesmo ganhava corpo.
A par desta questão religiosa, é necessário verificar que determinados elementos da economia e da política da época também contribuiam poderosamente para a ruptura com a Igreja. Pode-se destacar: a insatisfação dos reis com o poder temporal do Papa, um verdadeiro obstáculo `a centralização do poder que então ocorria; as terras da Igreja despertavam a cobiça de nobres e reis; os impostos cobrados pelo Papa constituiam uma autêntica evasão de divisas; o choque entre o pensamento burguês e as concepções econômicas da Igreja.
A questão das indulgências foi o estopim. a partir daí começaram a ser criadas novas religiões. O Luteranismo, na Alemanha; o Calvinismo, na Suiça; o anglicanismo, na Inglaterra, são alguns exemplo. Luteranos e calvinistas em breve podiam ser encontrados em quase toda a Europa. a rigor, apenas Espanha, Portugal, Itália e Polônia permaneceram integralmente católicos.
A reação da Igreja Católica demorou um pouco, mas foi feita, dando origem à Reforma Católica ou Contra Reforma. Através do Concílio de Trento, a Igreja procurou reafirmar seus dogmas, condenando as novas religiões. foram criados Seminários e o Catecismo e instituído o Índice dos Livros Proibidos (Index).
O trabalho de algumas ordens religiosas também foi significativo na contra-reforma, destacando-se a Companhia de Jesus, ou Ordem Jesuíta, criada por Inácio de Loyola e que voltou-se especialmente para a educação e catequese.
também o tribunal da Inquisição foi utilizado pela Igreja na tentativa de recuperar áreas perdidas para as religiões reformadas, ao mesmo tempo em que procurava evitar a expansão das novas idéias.
Com a Reforma, a Unidade religiosa da Europa desapareceu. um clima de intolerância passou a se manifestar, gerando perseguições, guerras. O poder político do Papa fragmentou-se e o poder dos reis fortaleceu-se. De uma certa forma a Reforma liberou ou contribuiu para retirar determinados obstáculos à expansão do capitalismo, na medida em que muitas das novas religiões passaram a pregar a necessidade da poupança, de uma vida mais rígida, sem gastos ou ostentações. No plano cultural, pôde-se verificar uma expansão da educação popular, ao mesmo tempo em que a extrema valorização da Bíblia contribuía para um retrocesso do desenvolvimento científico. as artes foram profundamente afetadas pela Reforma.
Fonte: Ricardo, Adhemar e Flavio, História. pgs 46 a 48.

O Renascimento Cultural

A crise do século XIV produziu uma profunda inquietação intelectual, caracterizada pela idéia de necessidade de renovação cultural, fenômeno que ficou conhecido por Renascimento. Este nome foi cunhado pelos humanistas italianos. Os humanistas eram, primitivamente, os elementos das universidades que recusavam os currículos tradicionais(voltados paraa Igreja) e pregavam a necessidade de uma renovação, com a inclusão de novas disciplinas, como a História, a Matemática e as línguas Orientais. Progressivamente, o termo Humanista passou a designar todos aqueles elementos que se empenhavam na renovação cultural, a partir de uma visão essencialmente crítica da sociedade européia.
O Renascimento surgiu na Itália, devido, fundamentalmente, às transformações econômico-sociais que se operavam nas principais cidades italianas. O intercâmbio comercial e o monopólio italiano no Mediterrâneo são fatores que se articulam para que possamos compreender o dinamismo cultural e intelectual da Itália à época do Renascimento.
Outro ponto que deve ser destacado é a tradição clássica mais vigorosa na Península italiana, berço do Império Romano. por último, o mecenato desenvolvido pelas ricas famílias que, em várias cidades, detinham o monopólio do poder político. esses mecenas deram uma extraordinária contribuição às artes, protegendo e financiando artistas.
Da Itália o renascimento expandiu-se para outros locais da Europa, notadamente a Espanha, França, Portugal, Alemanha, Países Baixos. Em cada um desses locais apresentou características específicas, mas, numa abordagem mais generalizante, podemos apontar os seguintes elementos como definidores do Renascimento:
Humanismo = valorização do ser humano, por oposição à Idade Média, onde ele era considerado um "simples grão de areia no deserto".
Classicismo = O renascimento voltou-se para a Antiguidade, mas não para tentar revivê-la. Não é uma simples "volta" ao passado; na realidade, é muito mais uma reinterpretação dos valores greco-latinos.
Individualismo = procurava-se abandonar o espírito corporativo que predominara até então. Os nobres e burgueses não tinham mais nenhum pudor em mandar fazer um retrato ou uma estátua de si mesmos; os artistas passaram a assinar sua obra.
Hedonismo = buscava-se a plena realização espiritual, a auto-satisfação. A busca do prazer passa a ser uma constante, também em oposição ao ascetismo medieval.
Naturalismo = a integração do homem à natureza, a redescoberta da íntima ligação com o Universo marcam o movimento renascentista. Procura-se colocar de lado o fantástico e o sobrenatural.
Antropocentrismo = em oposição ao Teocentrismo medieval, o Renascimento apresenta o homem como centro do Universo; O homem é a medida de todas as coisas.
Espírito Crítico = os pensadores e cientistas do renascimento são profundamente críticos, valorizando a experimentação, o que abre espaço para um grande desenvolvimento da matemática, da astronomia, da física e da medicina.
Racionalismo = o crescimento científico dessa época, marcado pelo método experimental, leva à rejeição das interpretações dogmáticas e à valorização da Razão. só se pode aceitar como verdade em ciência aquilo que o homem pode compreender através do seu intelecto. Abandonam-se, pois, supertições e lendas típicas do período medieval.
(...)Finalmente, é importante lembrar que o Renascimento é, esencialmente, um movimento elitista. O povo não participou desse movimento, abrindo-se, a partir daí, uma nítida divisão entre arte erudita e arte popular(...)
fonte: Ricardo, Adhemar e Flávio História. Vol 1 . pg35 a 37

sábado, 22 de março de 2008

Eram os gregos macumbeiros ?
Profº Dr. Marcos Alvito
Pontapé inicial:
Um labirinto de vielas, estreitas, sinuosas e sem iluminação à noite, com fama de perigosas. De dia, muito barulho e movimento, nuvens de poeira em meio a um calor infernal e mosquitos. Na praça, vende-se de tudo um pouco e na barbearia homens discutem com vigor os últimos acontecimentos. Não estamos falando de nenhuma favela carioca ou de um povoado árabe e sim da Atenas clássica, com seus templos coloridos (o Partenon tinha azul e vermelho) e seu povo alegre e agitado. Mas as semelhanças não param por aí. Na belíssima cena literária criada por Platão para narrar a morte de Sócrates, o filósofo, em meio aos seus discípulos, faz um último pedido. Pede que sacrifiquem um galo a Asclépios, uma dívida que ele, preso, não pudera pagar. Em suma, poderíamos dizer que ele pede que façam um despacho. Atentemos com cuidado para o caráter ambivalente dos deuses gregos - Apolo trazia saúde e doença, Dioniso alegria e loucura, sem falar nas disputas entre eles ou na perseguição vingativa que moviam a certos mortais.
Os orixás tem o mesmo caráter, rico e complexo como a vida, sem o maniqueísmo típico dos monoteísmos (cristãos, muçulmanos e fundamentalistas em geral).
O que nos impede de perceber as inúmeras semelhanças entre Atenas e Bahia ? É que os gregos são o cânone da tradição ocidental, enquanto os africanos e as culturas deles derivadas são vistos como primitivos. Puro preconceito, afinal, os gregos também eram macumbeiros: para tudo faziam sacrifícios animais, enterravam figurinhas de cera representando seus inimigos e eram tão religiosos que seria impossível conversar por cinco minutos com um deles sem ouvir menções aos deuses (Finley). Durante os festivais, o teatro onde eram apresentadas tragédias e comédias era uma mistura de Maracanã com programa de Chacrinha: mais de quinze mil pessoas batiam com os pés nas arquibancadas de madeira, comiam e bebiam desbragadamente, vaiavam e xingavam (se fosse o caso) e por vezes recebiam frutas lançadas pelos atores (bajulando o povão). E tragédia era música e dança também, sem falar nos figurinos, cenários e artifícios como o Deus-ex-Machina, um mecanismo que permitia simular a chegada de uma divindade literalmente caída do Céu (ou do Olimpo, se prefirirem). Em suma, os atenienses não eram um bando de intelectuais chatos, nem Atenas era um túmulo de mármore onde se respirava filosofia. Era mais provável sentir o cheiro das rosquinhas que se vendiam na ágora. Por isso, se um ateniense (mesmo filósofo) aparecesse por aqui, com certeza ele não iria a nenhum simpósio - aliás, simpósio era um banquete com vinho e hetairas também - mas decerto cairia no samba com o maior prazer. Ah, é claro que os gregos já tocavam pandeiro.

"MALANDRO NÃO CAI, NEM ESCORREGA"
profª Rosane Pereira / E.T.E Adolpho Bloch
"Meu terno branco/ linho S 120/ foi cortado com requinte pelo meu alfaiate inglês. / Camisa de seda pura/ pescoço desocupado/ bigode bem aparado/ um lado de cada vez. / Pisante de duas cores/ mas feito sob encomenda/ para que a oposição entenda que a maré pra mim tá boa./ Não é à toa / que uso esse chapéu quebrado/ para defender o telhado da friagem da garoa. / Chego assim mais esticado do que coro de cuíca,/ que a primeira impressão é que fica/ e eu chego querendo ficar. / Não sou malandro, porque malandro é de morte,/ estou no mundo por esporte/ só quero o leite e o mel./ Não sou malandro mas tenho o meu santo forte,/ sou um otário com sorte,/ sou zona norte,/ sou Vila Isabel."
(Poesia de Pedro Amorim )
A polícia nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, estava preocupada em manter a "ordem" na Capital Federal. Tinha por objetivo, por fim ou, diminuir a "desordem" provocada pela camada mais baixa da sociedade. Impregnados pela visão da classe dominante, que buscava regenerar a cidade, olhava para o povo como um agente perturbador da ordem pública. Muito barulhento com sua música e desordeiro em seus costumes, sua dança, aos olhos da elite, era por demais sensual.
Qualquer coisa que favorecesse a essa gente em seus modos de ser, a polícia intervinha, inclusive era comum a apreensão de objetos, como instrumentos musicais, com a intenção de evitar a desordem que causava. Havia uma preocupação por parte do governo em disciplinar e organizar as camadas sociais inferiores nos padrões europeus. Buscava ideologias que distinguissem o lícito do ilícito, o moral do imoral, a ordem da desordem. Pretendiam com toda essa mudança criar as regras "dos bons costumes". Não será só a música um instrumento de resistência, surge, também, um personagem que vai dar muito trabalho à repressão policial: o malandro. Mas quem é essa personalidade? Claudia Matos nos relata que o grupo de sambistas do Estácio, Cidade Nova, Saúde, Morro da Favela, Gamboa, Morro de São Carlos etc. , formava o reduto constituído de ex-escravos e seus descendentes, esses elementos foram os primeiros a ostentar a designação de "malandros" e a orgulhar-se dela. Sua música (o samba) realçava uma diferença de classe, sua cadência era mais sincopada, apoiada na percussão. Para essa camada social, este gênero musical, apresentava um som todo especial.
Alcebíades Barcelos, o Bide e Francisco Alves gravaram o primeiro samba no "novo estilo": "A Malandragem", em 1927 e fez grande sucesso no carnaval de 1928, na voz do próprio Chico Alves. Chico Alves era um 'malandro'. "Comprositor" persistente, comprava dos sambistas suas músicas e as registrava em seu nome, normalmente, dividia a autoria com o verdadeiro compositor (prática que o aproxima do perfil malandro). Outro "comprositor" famoso: Germano Augusto. Notabilizou-se pela proeza de se apoderar, com golpes de astúcia ou à força, de composições alheias, além de figurar em parcerias fictícias.
O perfil do bom malandro: andar solto, cheio de ginga, sorriso carregado de malícia. Olhar sedutor que nada escapava, conversa despretensiosa, esbaldando jogo de cintura. Terno de linho, sapato bicolor (a princípio usava tamancos), chapéu de panamá, lenço no pescoço e a inseparável navalha, eis aí o retrato falado do malandro.
Para além da rejeição do trabalho, o malandro é aquele que se recusa a pegar no pesado, procurando ganhar a vida longe das profissões em que seria necessário suar a camisa. Por isso o malandro vivia de expedientes, muitas vezes ilícitos como a jogatina, o contrabando e a cafetinagem.
O malandro se situa entre o mundo do trabalho, do ócio e o das pequenas transgressões. Transita por esses mundos sem se identificar plenamente com qualquer um deles.
Não tem emprego regular e nem faz questão de ter, embora, ocasionalmente trabalhe, como já foi dito, em atividades onde a força física não seja exigida. "Malandro que é malandro não pega no pesado".
Um dito popular afirma que o brasileiro é capaz de dar "nó em pingo d' água". Se esse dito estiver certo, nos arriscaríamos a afirmar, que o malandro seria capaz de dar nó em pingo de éter. Vejamos a história a seguir: uma ocasião um ladrão invadiu a casa de Wilson Batista, que tranquilamente inquiriu o meliante "o que você quer aqui? Respondeu o ladrào: "dinheiro." "Entào, devo lhe informar que o amigo bateu na porta errada". Pegou o ladrào pelo braço, conduziu-o até a janela e lhe confidenciou: "ta vendo aquela casa ali? Lá mora um industrial. Ta vendo aquela outra? Mora o grande ator Procópio Ferreira. Escolhe uma das duas, que aqui você nào vai conseguir nada." Acertadamente em um dos seus sambas, Moreira da Silva, o Kid Morengueira, afirmava que "em casa de malandro vagabundo nào pede emprego."
Desde os anos 1920, o malandro figurava como inspiraçào de sambas que podem ser analisados como verdadeiras crônicas de um cotidiano que iria se chocar com os interesses do Estado autoritário e intervencionista que estava sendo gestado a partir de 1930 e se efetivaria em 1937, quando o presidente Getúlio Vargas implanta o Estado Novo. Em linhas gerais o projeto estadonovista pretendia impulsionar a industrializaçào, e para tanto precisava contar com a constituiçào de uma classe operária disciplinada e amante do batente.
Pensemos: como esta classe desprivilegiada pode ser amante do batente? Se em toda a formaçào de sua história no Brasil (referente ao período aqui apresentado), o negro foi explorado, feito escravo, praticamente sem nenhum direito; se seus costumes (também suas músicas, suas danças) incomodavam. Seus hábitos nào eram considerados civilizados, eram vistos como bárbaros aos olhos do poder governamental e da elite brasileira. Quais seriam as cartas da repressão para transformar essa classe, em uma classe de operários disciplinados e amantes do batente? Existiriam tais cartas?