domingo, 20 de abril de 2008




O rei de Espanha mandou o presidente da Venezuela calar-se. A euforia tomou conta de todas as direitas, mas também deixou confusa muita gente boa. O que Chávez havia dito durante a Conferência da Comunidade dos Países Íbero-americanos? Que o ex primeiro-ministro espanhol, Aznar, é um fascista. O atual primeiro ministro da Espanha, Zapatero tomou a palavra para dizer que, embora tendo grandes divergências políticas com Aznar, achava que ele devia ser tratado com respeito. Zapatero não podia fazer diferente, tinha que se manifestar, porque sabia que seria cobrado na Espanha se houvesse se mantido em silêncio diante da crítica pública de Chávez.
O que fez Chávez enquanto Zapatero falava? Mesmo tendo o som cortado, continuou a falar paralelamente, interrompendo Zapatero, insistindo em seus argumentos contra Aznar, lembrando que este havia apoiado o golpe de Estado que derrubou Chávez do poder por dois dias em 2002 (por ordem de Aznar o embaixador da Espanha foi o primeiro a reconhecer o governo golpista)... Chávez estava cheio de razão, mas, como muitas vezes, foi impulsivo, deselegante, infringindo a etiqueta da diplomacia etc. Nesse momento, impaciente, o rei Juan Carlos exclamou: “por que não se cala?” A imprensa das classes dominantes do Brasil exultou e aproveitou para achincalhar Chávez mais uma vez. Por que tanta animosidade contra Chávez? Vejamos: quando Chávez foi eleito presidente da República pela primeira vez, em 1998, a Venezuela estava em falência política, suas classes dominantes, mergulhadas em profunda corrupção, desmoralizadas, não conseguiam mais governar. A maior riqueza do país, o petróleo, entregue às multinacionais de petróleo americanas, era partilhada por estas com as elites tradicionais e a alta classe média, ambas americanizadas, vivendo mais nos Estados Unidos que em seu país, seus filhos indo em massa estudar na Flórida, falando mais inglês que espanhol, acostumados todos a ver a Venezuela como uma fazenda de onde extraiam sua boa vida. A Venezuela é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo e exporta a maior parte da produção para os Estados Unidos. Chávez começou por questionar a dominação americana sobre o petróleo. Procurou fortalecer a capacidade de negociação da PDVSA (a empresa estatal venezuelana) com as multis. Além disso, constatando que as políticas das grandes potências haviam levado à redução brutal do preço internacional do petróleo (chegou a menos de 20 dólares o barril de 60 litros, isto é, petróleo estava mais barato que água mineral), assumiu a presidência da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e desenvolveu uma política de valorização do preço do óleo. Isso causou ódio e remordimento nos Estados Unidos e nos outros países ricos. Chávez também tratou de retirar das classes dominantes locais parte dos benefícios que recebiam do petróleo para poder investir na melhoria de condição de vida da população trabalhadora, especialmente em educação, saúde, alimentação, habitação. Isso enfureceu os velhos setores dominantes venezuelanos. Também o governo direitista espanhol, então comandado por Aznar, se incomodava. Porque a Espanha, ainda que há muito derrubada de sua condição de potência colonialista na América Latina, mantém grandes investimentos e desenvolve grande influência política por aqui, na condição de país sub-imperialista. Os americanos, auxiliados pelo governo de Aznar, conspiraram com as classes dominantes locais pela derrubada de Chávez em 2002. Deram o golpe, mas não levaram, impedidos por um levante popular associado a uma tomada de posição de parte das forças armadas em favor legalidade. Chávez reassumiu tendo muito mais clareza de quem eram e como atuavam os inimigos do povo venezuelano. Aprofundou sua política de nacionalização do petróleo e de destinar os benefícios dessa riqueza para os mais pobres. Sabendo o tamanho da ameaça, tratou também de fortalecer as forças armadas venezuelanas, comprando armas para melhorar a qualidade da defesa do país, vizinho de uma super-armada e pró-americana Colômbia e de várias bases militares dos Estados Unidos. Como diz o velho ditado, “bobo é quem pensa que o inimigo dorme”. Chávez também mudou as leis do país, promoveu a elaboração de uma nova Constituição, reformou a Justiça e o Parlamento, reforçando a participação popular. Por tudo isso, Chávez é acusado de ditatorial. O interessante é que todas as mudanças promovidas por Chávez foram feitas à partir de eleições, plebiscitos e consultas à população. Desde 1998 realizaram-se dez eleições e plebiscitos no país. Nenhum governo em tempos atuais consultou tão freqüentemente a população como o venezuelano. Eleições cuja lisura não foi contestada por observadores internacionais. Chávez ganhou todas e por larga margem. A oposição golpista, decidida a desmoralizar o regime político do país, esteve ausente de uma eleição. Comandou a abstenção, mas o povo votou em massa em Chávez e em seus candidatos ao Congresso. Resultado, com esse ato estúpido, apolítico, a oposição ficou sem representação nos poderes da República. E depois, saiu acusando Chávez de ditatorial.Certamente Chávez tem lá seus defeitos. Mas para se adotar uma posição madura sobre ele e seu governo, para ver com clareza no meio desse tiroteio é preciso levar em conta o principal. Registro três aspectos:1)Trata-se de um governo antiimperialista, construindo a independência de seu país e, por isso, um poderoso aliado de todos os povos latino-americanos na luta contra as políticas imperiais que nos empobrecem e mantêm dependentes. O Brasil e todos os outros países do continente têm sido beneficiados pelas posições e políticas do governo de Chávez.2) Também é preciso ver que ele vem promovendo políticas de melhoria das condições de vida da população trabalhadora e mais pobre da Venezuela e estimulando seu desenvolvimento econômico.3) Todas as grandes decisões de governo têm sido respaldadas em eleições legítimas. Atualmente, a irritação oligárquica contra Chávez alcança um novo ápice. Isso porque seu governo está propondo uma nova reforma constitucional. Uma das propostas é ampliar a possibilidade de reeleição do presidente da República. O povo venezuelano vai votar livremente e dizer se apóia ou não essa proposta. Se apoiar, Chávez poderá se reelegr outras vezes. E o povo venezuelano irá conferir no futuro se tomou uma decisão acertada ou não. É seu direito, é sua responsabilidade. Isso é democracia, é ou não é? Ou democracia é comprar deputados e fazer passar uma emenda à Constituição no Congresso para permitir a reeleição do presidente, sem consultar a população, como fez FHC mudando a regra do jogo para ganhar um novo mandato em 1998? Isso é democracia ou é golpe? É golpe. Mas para a imprensa oligárquica FHC é o democrata impoluto. E Chávez é que é ditador? Poupem-nos de tanta hipocrisia!

Carlos Azevedo é jornalista

Extraído do Informativo Caros Amigos nº 315, de 22 de novembro de 2007.
Postado por Professor Denilson Botelho no seu blog Na Bruzundanga com Denilson Botelho

terça-feira, 15 de abril de 2008

A Superação do Feudalismo

A SUPERAÇÃO DO FEUDALISMO – SÍNTESE TEÓRICA
PROFº ORLANDO REY

A crise do sistema feudal e o progressivo desenvolvimento do capitalismo criaram as condições necessárias para o surgimento do mundo moderno.
Entre o século XI e o início do século XIV houve a retomada do crescimento demográfico na Europa ocidental. A população européia que em 1050 girava em torno de 46 milhões, chegou a 73 milhões em 1300. Esses números são importantes para compreendermos melhor as transformações que ocorreram na Europa a partir de então.
O crescimento demográfico trazia um grande problema para o feudalismo que era a necessidade de ampliar a produtividade. Porém o modo de produção feudal tinha as suas limitações sendo que a principal delas era a alta tributação imposta pelos senhores feudais aos servos(talha, corvéia, banalidade, mão morta etc.), fazendo com que esses não tivessem o menor interesse em aumentar a produção, que naquele momento era insuficiente para atender as necessidades de consumo.
A marginalização social foi a conseqüência imediata do descompasso entre o aumento populacional e a baixa produtividade dos feudos. Os senhores feudais, buscando adequar o consumo a produção, expulsavam o excedente populacional de suas terras. Boa parte desse excedente estabeleceu-se em aldeias ou em antigos centros urbanos, outros viraram salteadores.
Em 1095 o papa Urbano II conclamou a cristandade a integrar as cruzadas, movimento militar de caráter religioso realizados pelos cristãos contra os muçulmanos. A intensa religiosidade do homem medieval foi de grande importância para a organização das cruzadas. A marginalização decorrente do crescimento demográfico, o direito de primogenitura , e o interesse comercial, principalmente dos mercadores das cidades italianas(Gênova e Veneza) que fica evidente a partir da quarta cruzada quando ocorre a retomado do mediterrâneo, que tinha se transformado em um lago árabe, pelos europeus que restabelecem o comércio entre ocidente e oriente.
As cruzadas foram importantes pois ajudou a Europa a despertar do seu sono feudal, abrindo caminho para o renascimento comercial e urbano que vai se processar na medida em que se intensificam a procura por mercadorias vindas do oriente.
As cidades de Gênova e Veneza , na Itália, vão se beneficiar com a retomada dos contatos comerciais entre ocidente e oriente através do mar Mediterrâneo, sobre o qual exercem controle do comércio, passando a monopolizar a distribuição das mercadorias orientais por todo continente europeu.
A intensificação das atividades comerciais no sul e no norte do continente europeu fez surgir várias rotas comerciais(terrestres e fluviais) e as feiras, como a de Champagne, que eram pontos de comércio temporário.
Esse “boom” comercial fez crescer a importância da moeda, que por sua vez realçou a demanda por metais preciosos(ouro e prata) para a cunhagem das moedas; deu novo impulso à atividade creditícia , o surgimento da letra de câmbio, tipo de título negociável no mercado com o objetivo de evitar, por motivos óbvios, o transporte de grande somas de dinheiro, além de reduzir os problemas ocasionados pelas diferentes moedas cunhadas nas diferentes cidades. Todas essas novidades expressavam uma nova modalidade de riqueza, cambiável, não fixa como a terra dos senhores feudais, dando destaque a um novo grupo social, os mercadores.
Com o renascimento da vida urbana e das atividades comerciais, os servos camponeses passaram a procurar as cidades para vender o seu excedente de produção ou até mesmo deixando a vida no feudo, para ali, na cidade, tentar melhor sorte.
Nas cidades medievais as atividades artesanais estavam sobre rigoroso controle das corporações de ofício, que eram associações que os artesãos organizavam com a intenção de regulamentar suas atividades. As corporações de ofício procuravam reservar o mercado da cidade aos seus membros, impedir a concorrência desleal entre os artesãos, controlar preços, salários e padrões de qualidade dos produtos. Essas associações também negociavam, quando era o caso, os impostos com os senhores feudais.



A CRISE DO SÉCULO XIV

O feudalismo sofreu um grande baque no século XIV, um século marcado pela fome, pela ação da peste negra e pela guerra dos cem anos. Acontecimentos que vão desestabilizar a precária economia feudal.
Visando aumentar a produção de alimentos para alimentar a população que aumentava, o homem medieval desmatou grandes áreas de florestas e assim foi possível atender o aumento do consumo, porém, chegou um momento em que esse artifício não podia mais ser posto em prática pois não haviam mais terras disponíveis para ampliar o cultivo. Veio então a fome e os males decorrentes de uma alimentação precária.
O intenso comércio entre o ocidente e o oriente despejou na Europa tapetes, porcelanas, sedas, especiarias e... ratos, e com os ratos, a peste negra. Cidades sujas e corpos mal alimentados só poderiam resultar em uma catástrofe demográfica. Praticamente 1/3 da população européia sucumbiu à peste. Cidades inteiras foram abandonadas. A grande mortandade fez faltar mão-de-obra nos feudos, as rendas dos senhores feudais caíram, levando-os a aumentar a exploração dos servos. Estouraram muitas revoltas camponesas como as famosas jaqueries, na França.
Para embolar ainda mais o meio de campo do feudalismo, França e Inglaterra estavam em guerra(guerra dos cem anos, 1337-1453). A origem desse conflito está na tentativa da França em retomar as terras de seu território que estavam nas mãos de nobres ingleses
É nesse contexto de grande instabilidade política e social que ficou claro que as tropas particulares de cada senhor feudal não bastava para restaurar a ordem diante de um levante camponês por exemplo. Era preciso criar um exército numeroso e bem equipado, capaz de reprimir os revoltosos em vários lugares e ao mesmo tempo se necessário.
Somente um Estado forte e centralizado teria condições de conseguir os recursos necessários para montar, armar e sustentar esse poderoso exército: nascia o Estado Absolutista, uma superarma nas mãos do rei e da nobreza feudal par “por ordem na casa” e assim prolongar a vida do feudalismo.
No absolutismo o poder estava centralizado nas mãos do rei, que na verdade era o representante da nobreza feudal. O monarca(rei) era absolutista não porque seu poder fosse ilimitado, mas porque ele estava acima das leis.
A burguesia apoiou a centralização política nas mãos do rei porque os particularismos de cada feudo eram um entrave ao desenvolvimento do comércio. O Estado absolutista, por sua vez, dava força aos negócios da burguesia pois quanto mais dinheiro a burguesia ganhasse mais o Estado arrecadaria através dos muitos impostos que os burgueses teriam que pagar ao Estado.
Para justificar o absolutismo, os reis foram apresentados como a própria encarnação da vontade de deus. Quem ousaria contrariar o todo poderoso? Esse tipo de argumentação ficou conhecida como teoria do direito divino dos reis.
O italiano Nicolau Maquiavel é certamente um dos principais teóricos do poder real. Ele defendia, entre outras coisas, que o rei tinha de ser racional na busca dos interesses do Estado e que a unidade política é fundamental para a grandeza de uma nação.
Outro grande teórico do absolutismo, Thomas Hobbes, considerava que inicialmente os homens viviam em estado de completa anarquia e que os indivíduos, de comum acordo , formaram o Estado Civil para se protegerem da violência. Daí teria resultado o poder ilimitado do Estado, fruto do consentimento dos seus súditos. Chamamos essa visão de Teoria Contratualista.


O MERCANTILISMO


A Europa absolutista retoma o crescimento econômico. No século XV tem início as Grandes Navegações e o descobrimento da América, que seria incorporada aos interesses europeus. O Estado absolutista teve um papel destacado nesse contexto, ele intervinha diretamente sobre a economia. O nome que se dá a essa intervenção é mercantilismo. Entende-se por mercantilismo o conjunto de idéias e práticas econômicas dominantes na Europa entre os séculos XV e XVIII, tendo por objetivo direto o fortalecimento do Estado e indireto o enriquecimento da burguesia.
Os elementos essenciais da prática mercantilista são: metalismo, balança de comércio favorável, política de monopólios, protecionismo e sistema colonial.

RENASCIMENTO CULTURAL

No campo da cultura e das artes ocorre uma verdadeira revolução que atende pelo nome de Renascimento. Expressa a visão de mundo da nova sociedade emergente diante do feudalismo em crise e do desenvolvimento da economia mercantil. O termo renascimento é decorrência da preocupação dos homens que viveram a época em se inspirarem nos valores e ideais da antigüidade clássica(greco-romana)por oposição aos valores medievais que desprezavam, tanto que o termo Renascimento pode levar a um equívoco: de que a arte e a vida cultural estavam mortas na Idade Média.
Não foi por acaso que a Itália foi o berço do Renascimento. Lá a tradição clássica era muito vigorosa, existiam cidades que alcançaram grande prosperidade econômica graças ao comércio, ricos mercadores passaram a financiar as produções artísticas, tornando-se mecenas, tendo por objetivo difundir hábitos e valores da classe social mais dinâmica da sociedade, ou seja, a burguesia mercantil.
As características marcantes do Renascimento são: o racionalismo, o individualismo, o antropocentrismo, o naturalismo e o hedonismo, em oposição aos valores medievais capitaneados pelo teocentrismo.


REFORMA PROTESTANTE E CONTRA-REFORMA

No tocante a religiosidade, a Europa cristã também passou por grandes transformações. No século XVI ocorreu a Reforma Protestante que representou uma grande revolução espiritual na época moderna, representando no nível religioso a passagem do feudalismo ao capitalismo.
A Reforma Protestante foi mais que uma reforma, pois ao romper a unidade do cristianismo no ocidente transformou a estrutura eclesiástica e a doutrina da salvação. Mudou, portanto, aspectos formais e de conteúdo.
Entre os fatores que impulsionaram o movimento das reformas podemos citar os de ordem: religiosos: o despreparo da maioria do clero, a necessidade de conter os “abusos” cometidos por membros da Igreja Católica como a venda de indulgências(perdão dos pecados), de relíquias sagradas e de cargos.

políticos: contradições decorrentes do universalismo da Igreja e a afirmação do Estado Nacional absolutista


sócio-econômicos: interesse da nobreza e da burguesia nas terras da Igreja; necessidade da legitimação do lucro através de uma nova ética econômica mais adequada à época moderna.


O início da ruptura religiosa se dá em 1517 quando o monge agostiniano alemão Martinho Lutero torna público as suas 95 teses e rompe com o papa Leão X. além de condenar a venda de indulgências, Lutero, questiona alguns dogmas da Igreja como por exemplo a infalibilidade do papa perante assuntos de religião. O apoio que Lutero obteve de boa parte dos príncipes alemães foi fundamental para o êxito da Reforma Protestante
Para Lutero a fé é o único caminho para a salvação sendo a Bíblia a única fonte para fé. Segundo ele o fiel deveria fazer a livre interpretação do livro sagrado dispensando qualquer tipo de intermediação.
Em 1536, João Calvino deu início a Reforma na Suíça. O calvinismo foi muito mais radical que a Reforma Luterana. Segundo Calvino as pessoas são predestinadas a se salvar ou não(teoria da predestinação). Somente os eleitos de Deus alcançarão a salvação. De nada adiantava ter fé ou praticar boas ações. Os calvinistas interpretavam a riqueza material como um sinal enviado por Deus aos eleitos. Essa doutrina foi facilmente assimilada pela burguesia que queria lucrar sem medo de ir parar no inferno.
Na Inglaterra a Reforma foi efetuada pelo rei Henrique VIII, que utilizou como pretexto para romper com a Igreja de Roma, o fato de que o papa se recusou a conceder o seu divórcio com Catarina de Aragão, que pertencia a casa real de Espanha. Na realidade o monarca inglês tinha outras motivações para romper com a Igreja Católica: escapar ao controle do papa e submeter a Igreja ao Estado, tomar as terras e os bens que a Igreja possuia na Inglaterra. Nascia a Igreja Anglicana cujo Ato de Supremacia de 1534, garantia ao Rei a chefia espiritual da Igreja.

Passado o susto inicial a poderosa Igreja Católica deu início a Contra-Reforma cujos pontos fundamentais foram:
Concílio de Trento: que negou qualquer valor às doutrinas protestantes, criou seminários, proibiu a venda de indulgências, criou o Índex(lista de livros proibidos)

Criação da companhia de Jesus: que teve grande importancia na expansão do catolicismo nas áreas recém conquistadas pelos europeus.

Reativação do Tribunal do Santo Ofício: responsável pela inquisição na Idade Média, foi reorganizado, passando a persiguir as vozes dissidentes.

Os principais reflexos da Reforma foram o rompimento da unidade cristã trazendo consigo o crescimento da intolerância religiosa; ruptura do poder político do papado e o fortalecimento do poder monárquico; guerras sob pretextos religiosos; expansão das práticas capitalistas, devido algumas doutrinas protestantes.

Todos esses episódios: crescimento demográfico, movimento cruzadista, renascimento comercial e urbano, a crise do século XIV, a formação das monarquias nacionais, a Expansão Marítima e comercial, o Renascimento Cultural, a Reforma Protestante e a Contra-Reforma são elementos de grande importância para entendermos como se processou o longo caminho que levou a progressiva superação do feudalismo rumo a implantação do modo de produção capitalista.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Textos p/ o 3º e 4º anos: Tarifa Alves Branco, Bill Aberdeen, Lei Eusébio de Queirós, Lei de Terras, Era Mauá, Questão Religiosa, Questão Militar e Qu

Tarifa Alves Branco, Bill Aberdeen, Lei Eusébio de Queirós, Lei de Terras, Era Mauá, Questão Religiosa, Questão Militar e Questão Abolicionista

Em 1844, foi criada a Tarifa Alves Branco. Tendo como objetivo aumentar, através da majoração das alíquotas sobre os produtos importados, as rendas governamentais. Ao encarecer os produtos estrangeiros, abriu-se um espaço para a produção nacional.
Os ingleses sentindo-se prejudicados, decretaram em represália o Bill Aberdeen (1845), que dava poder a sua marinha de perseguir negreiros onde quer que estivessem. Os ingleses resolveram “entrar de sola” contra o tráfico e a escravidão de africanos. A partir de então a pressão inglesa só aumentaria.
As reais motivações que levaram os ingleses a combater o tráfico de almas e a escravidão foram econômicas: os produtos de suas colônias não conseguiam concorrer em pé de igualdade com a produção de regiões escravistas. Devemos atentar que a Inglaterra abolira a escravidão em suas possessões em 1833.
De 1845 a 1850, os ingleses foram só pressão, até que o governo brasileiro resolveu por fim no tráfico atlântico. Em 1850 foi criada a Lei Eusébio de Queirós que ao contrário da que foi feita em 1831 apenas “para inglês ver”, foi feita para ser cumprida. A Lei Eusébio de Queirós representava um duro golpe na escravidão, que necessitava para sua manutenção, de reposição contínua de escravos. A princípio os efeitos da cessação do tráfico atlântico não foram sentidos, pois nos anos posteriores ao Bill Aberdeen, aumentou sensivelmente o número de escravos que entraram no Brasil. O tráfico interprovincial, deslocamento de escravos das regiões onde a economia estava em franca decadência para os cafezais do sudeste, foi utilizado pelos escravocratas como um paliativo.
A elite agrária se preocupava com a questão da mão-de-obra. Quem substituiria os cativos quando a escravidão acabasse? imigrantes?, nacionais?. Como fazer com que esses trabalhadores não “chutassem o balde” e se recusassem a ser explorados por essa elite? Devemos atentar que naquele momento existiam muitas terras públicas que poderiam ser utilizadas por esses trabalhadores como posseiros. É nesse contexto que, ainda em 1850, é implementada a Lei de Terras, determinando que a partir de então as terras públicas não poderiam ser mais adquiridas por doação ou posse, somente mediante a compra. O preço da terra deveria ser proibitivo, de forma que inviabilizasse o acesso a terra aos futuros trabalhadores, obrigando-os a vender a sua força de trabalho aos fazendeiros para sobreviverem.

Era Mauá

Após 1850 o Brasil conheceu um surto industrial, que pode ser explicado pela adoção da Tarifa Alves Banco que encareceu os importados e pela cessação do trafico atlântico que liberou grandes somas de dinheiro para outras atividades. Os lucros auferidos com o café também favoreceram a essa incipiente industrialização.
A figura de destaque desse período foi Irineu Evangelista de Souza (o barão, depois visconde de Mauá). Grande empreendedor, Mauá criou bancos; investiu em serviços públicos como iluminação à gás e abastecimento de água; criou a primeira ferrovia brasileira; empreendeu a montagem do cabo telegráfico submarino ligando o Brasil à Europa, entre outras atividades.
Mauá era um homem a frente do seu tempo. Isso lhe trouxe algumas dificuldades, além de inimigos poderosos dentro e fora do país. Não contando com o apoio governamental nos momentos decisivos, aliado a alguns erros de cálculo, Mauá faliu.


A Questão Religiosa

De acordo com a Constituição de 1824, a Igreja Católica estava subordinada ao Estado (regime do padroado), o que possibilitava ao Imperador intervir nos assuntos religiosos. Era ele que nomeava os bispos, por exemplo, além de arcar com a manutenção dos religiosos. As determinações de Roma só poderiam ser implementadas pela Igreja no Brasil se contasse com o beneplácito (autorização) do Imperador
No Brasil Império havia um grande número de pessoas importantes, inclusive membros da Igreja, ligados a maçonaria, embora tais ligações estivessem proibidas desde 1864, devido a Bula Syllabus do Papa Pio IX.
Em 1872, D. Vidal Maria (bisbo de Olinda e Pernanbuco) e D. Antônio Macedo(bispo de Belém do Pará) resolveram fazer valer a Bula Syllabus, que não contava com o placet do Imperador Pedro II, e resolveram punir os padres maçons de suas dioceses. Os bispos acabaram presos e condenados a 4 anos de trabalhos forçados. Após um arranjo político os bispos foram anistiados, porém tal constrangimento envolvendo o Império e a Igreja fez com que essa última não “movesse uma palha” pelo destino da Monarquia brasileira.

A Questão Militar

Durante o período Regencial, o Exército foi esvaziado. O padre Feijó, Ministro da Justiça da Regência Trina Permanente, criou a Guarda Nacional, uma milícia de proprietários, cuja patente máxima, a de coronel era entregue ao fazendeiro de “maior prestígio” da região. A criação da Guarda Nacional atendia aos anseios de uma elite agrária que não confiava no Exército para defender os seus interesses.
Quando nos anos de 1860, a situação na região platina ficou tensa, o Exército teve ser reaparelhado e reforçado. Entre 1865 e 1870 o Exército Brasileiro esteve envolvido na Guerra do Paraguai, o maior conflito militar da América do Sul. O Exército Brasileiro Atuou em conjunto com os exércitos da Argentina e do Uruguai, contra o Paraguai nesse conflito cujas causas, segundo pesquisas recentes, estão relacionadas aos problemas inerentes a formação dos Estados Nacionais na região platina.
Após a Guerra do Paraguai, o Exército Brasileiro tinha pretensões de participar efetivamente da vida do país. O governo imperial, entretanto, teimava em não reconhecer a importância adquirida pelo Exército dentro da sociedade brasileira, relegando-o a posição secundária.
A crise envolvendo o Império e os militares tiveram início em 1883, quando o tenente-coronel Sena Madureira protestou através da imprensa devido ao atraso do pagamento da pensão para os familiares das vítimas e para os militares que voltaram mutilados da Guerra do Paraguai. A irritação do oficial era devido ao fato de que se passara 13 anos e nada de pensão. A partir daí ocorreram punições por parte do governo e novos incidentes envolvendo militares. O desgaste entre governo e militares levou esses últimos a aderirem paulatinamente ao republicanismo. Era um outro pilar de sustentação imperial que desabava.

O Abolicionismo


Após a Guerra do Paraguai (1865 – 1870) muitos oficiais voltaram convertidos ao abolicionismo. Em todo país a idéia de por fim a escravidão ia conquistando novos adeptos. Para acalmar as forças que se opunham à escravidão, o governo aprovou em 1871, a Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, que previa a liberdade para os filhos de escravas nascidos após essa data. As crianças ficariam sob a guarda do dono da escrava até completar oito anos de idade, quando o senhor poderia optar entre receber uma indenização pela liberdade da criança, ou explorar o seu trabalho até que ela completasse 21 anos.
No final da década de 1870, observa-se o crescimento da campanha abolicionista. Entre os abolicionistas verificam-se duas tendências: uma moderada, que defendia a luta parlamentar para se alcançar o fim da escravidão. Entre os moderados podemos destacar José do Patrocínio e Joaquim Nabuco.
A outra tendência, mais radical, defendia que a luta pelo fim da escravidão deveria ser encaminhada pelos próprios escravos, cabendo aos abolicionistas apenas incentivar a luta dos cativos, dando o suporte necessário para que os escravos conseguissem a sua liberdade. Entre os radicais destacam-se Luís Gama, André Rebouças e Antônio Bento (lider dos Caifases).
Em 1885, foi promulgada a Lei Saraiva-Cotegipe (Lei dos Sexagenários) mais uma tentativa do governo de adiar o fim da escravidão no Brasil. Essa Lei previa liberdade aos cativos que tivessem 60 anos ou mais. Algumas disposições da Lei dos Sexagenários acabavam por prolongar a agonia dos ex-escravos até aos 65 anos, quando realmente seriam livres.
Finalmente no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo definitivamente o trabalho escravo no Brasil. A Lei Áurea, que não contemplava nenhum tipo de indenização aos donos de escravos acabou sendo desastrosa para os destinos da Monarquia no Brasil. Os fazendeiros escravistas que constituíam o principal pilar de sustentação do Império aderiram ao Movimento Republicano (Republicanos do 13 de maio). Como veremos a Monarquia caiu de madura.