domingo, 30 de março de 2008

textos p/ 3º e 4º ano 2009: Imperialismo e Neocolonialismo

As inovações técnicas ocorridas na segunda metade do século XIX, convencionou-se chamar de segunda Revolução Industrial, foram na verdade a utilização de novas fontes de energia (petróleo e electricidade) que possibilitaram o surgimento de novas indústrias e o desenvolvimento dos transportes e comunicações. Simultaneamente, ocorreram transformações de ordem estrutural: o capitalismo liberal foi suplantado pelo capitalismo monopolista, devido à concentração de empresas e limitando a concorrência.
O capitalismo monopolista e financeiro (1870-1945), corresponde a segunda fase do sistema capitalista, é marcado pela forte concentração empresarial.
A concentração desenvolveu-se através de duas formas: a vertical e a horizontal.
Concentração horizontal: efetua-se o domínio de um determinado setor (ou fase) da produção de uma mercadoria. Ex.: domínio da fase do refino do petróleo e/ou sua distribuição.
Concentração vertical: Grupo de empresas que tende a dominar todas as fases de um processo produtivo, desde a produção de matérias-primas até a fabricação final ou comercialização.
No Capitalismo Monopolista tivemos vários tipos de concentração e integração, geralmente conhecidos como cartéis, trustes e holdings.

Cartel: Acordo comercial entre empresas produtoras, as quais, embora conservem a autonomia interna, se organizam em sindicatos para distribuir entre si cotas de produção e os mercados, e determinar os preços, suprimindo a livre concorrência.

Trust: Associação financeira que realiza a fusão de várias firmas em uma única empresa.

Holding: Não ocorre a fusão, porém uma empresa central controla outras subsidiárias; ainda que estas juridicamente sejam autônomas, a maioria de suas ações pertence à empresa central.

O imperialismo é a subjugação de um ou mais países capitalistas sobre outro país. A concentração capitalista e o protecionismo alfandegário elevado levaram ao estágio do imperialismo, isto é, à exportação de capitais excedentes e à dominação de mercados, inclusive sob a forma de colonialismo na África e na Ásia.
Obs.: Imperialismo – impulso dominador de caráter econômico (mais geral).
Colonialismo – aquelas formas em que se acrescentou ao domínio econômico o domínio político, geralmente estabelecido através da conquista militar.

O neocolonialismo concretizou-se de várias formas, das quais destacamos:

Os protetorados, em que se mantinham os chefes locais, mas os funcionários metropolitanos exerciam de fato o controle da economia e da política.
Ex.: Marrocos (França), o Egito e a Índia (Inglaterra).
As colônias propriamente ditas, em que se procedia a uma completa ocupação territorial, com a implantação de um aparelho político-administrativo e militar. Subdividiam-se em: colônias de enraizamento e de enquadramento. Colônias de enraizamento - povoamento europeu e expropriação das terras nativa. Ex.: Argélia, Angola e África do Sul.

Colônias de enquadramento – minoria européia, que exercia as funções administrativas, apoderava-se do excedente de produção sem se apropriar das terras nativas. Ex.: colônias inglesas na África.

Áreas de influência, em que diversas potências procuravam obter vantagens e privilégios exclusivos.
Ex.: China.










Texto para o 3º e 4º ano:A Primeira Guerra Mundial

A hegemonia européia no início do século XX era incontestável, tanto no plano econômico como no político. No nível econômico a Europa controlava a maior parte da produção mundial, dominando a economia dos países coloniais. No nível político, controlava os países africanos e asiáticos através de uma dominação efetiva no local e exercia influência nos países latino-americanos.
As origens da Primeira Guerra Mundial ligam-se à disputa colonialista entre as potências européias industrializadas ao nacionalismo agressivo que justificava o imperialismo, à corrida armamentista e navalista, e aos acordos e alianças que tornaram frágil o equilíbrio europeu.
No continente europeu existiam inúmeros pontos de atrito entre as potências, os quais geraram antagonismos, tais como: França e Alemanha atritavam-se por causa da Alsácia-Lorena e Marrocos; a Inglaterra sofria os efeitos da expansão econômica e naval alemã; Rússia e Áustria tinham rivalidades nos Balcãs; Rússia e Alemanha disputavam o controle do Estreito de Dardanelos; a Áustria tinha conflitos com o nacionalismo da Sérvia; em virtude da ocupação da Bósnia-Herzegovina em 1912 pela primeira.
Esse clima de tensão corrobora a formação de dois sistemas de alianças: a Tríplice Aliança, bloco militar formado pela Áustria-Hungria, Alemanha e Itália; a Tríplice Entente englobava uma aliança militar (França e Rússia) e dois acordos (França e Inglaterra – a Entente Cordiale – e Inglaterra e Rússia).
O sistema de alianças proporcionou um clima de tensão, que bastava um incidente para desencadear um conflito generalizado. É o que ocorre em julho de 1914, quando o Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, por um estudante da Bósnia-Herzegovina, região reinvidicada pela Sérvia.
A guerra tornou um caráter mundial que envolveu as colônias dos países em conflito. Formando dois blocos: os Aliados (Inglaterra, França, Rússia, Japão e Bélgica, e depois Itália e EUA; e as Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Húngria, Turquia e Bulgária).
O ano de 1917, foi decisivo para a guerra, em virtude da entrada dos EUA ao lado dos Aliados e a saída da Rússia do conflito, devido à Revolução Socialista.
Os problemas surgidos com a guerra, trouxe repercussões e a necessidade de novas atitudes e comportamentos nos níveis econômicos, político e social, tais como: 1. uma intervenção cada vez maior do Estado na vida econômica, o endividamento da Europa, o início da hegemonia dos EUA; 2. preponderância do Executivo sobre os Parlamentos, devidos à urgência das decisões; supressão das liberdades políticas, recrudescimento das greves; oposição de diversos setores, sobretudo os socialistas, à greve e às autoridades militares; e, o mais importante, a derrubada do czarismo na Rússia.
Os principais efeitos da guerra foram: a vitória dos princípios liberais e democráticos; o desaparecimento dos Impérios Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Turco; a adoção do regime republicano em quase todos os países e, posteriormente, o surgimento de ditaduras; o estabelecimento do regime socialista na Rússia; surgimento de novos Estados; início da Descolonização; os fascismos etc.
A Conferência de Paris, em que se destacaram as figuras de Clemenceau (França), Lloyd George (Inglaterra) e Wilson (EUA), determinou a assinatura de tratados em separado com os vencidos. Os tratados foram: o Tratado de Versalhes, com a Alemanha; de Saint-Germain, com a Áustria; de Trianon, com a Húngria; de Nevilly, com a Bulgária; de Sévres, com a Turquia.
O Tratado de Versalhes regulava a paz com a Alemanha e lhe impunha pesadas condições. Significou a “Revanche” da França à derrota de 1871 (Guerra Franco-Prussiana). Estabelecia a devolução de territórios (Álsácia-Lorena) e a concessão de outros (Sarre) à França; a perda de colônias; o pagamento de pesada indenização de guerra; a desmilitarização; tudo isso agravando as rivalidades, que se manifestariam duas décadas mais tarde, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.









































Estado Nacional: Absolutismo e Mercantismo



Entre os séculos XII e XV, ocorreram diversas transformações no solo europeu, entre essas alterações podemos destacar o renascimento comercial e consequentemente o progressivo crescimento urbano.
No final do século XIII, o feudalismo entra em crise. O desenvolvimento da produção que ocorreu nos séculos anteriores(a partir do século X)deveu-se mais pela incorporação de novas terras ao cultivo do que pelo domínio de tecnologia agrícola que naquele momento ainda era bastante precárias. Com o passar dos anos, já não havendo mais novas terras para a ampliação do cultivo e devido a uma utilização predatória das terras utilizadas, não demorou muito para que o solo europeu desse sinais de esgotamento.
O desmatamento de imensas áreas que seriam incorporadas ao cultivo acarretou profundas alterações climáticas, onde períodos excessivamente chuvosos eram seguidos por longos períodos de seca, consequentemente levando a diminuição da já insuficiente produção agrícola.
A escassez de alimentos contribuiu para fragilizar os corpos dos indivíduos, minando a resistência da população, de forma que quando a peste negra(peste bubônica, doença transmitida pela pulga do rato) desembarca na Europa vinda do Oriente, é capaz de dizimar 1/3 da população européia.
O alto índice de mortalidade acarretou a diminuição da mão-de-obra. Porém a essa altura a nobreza feudal já não podia viver sem os produtos luxuosos que vinham do oriente, esses produtos como bem sabemos custavam caríssimos, o que fizeram os nobres? Passaram a explorar ainda mais os servos que sobreviveram a ação da peste negra.
Porém os servos reagiram a exploração senhorial que naquele momento tornara-se mais intensa: muitos fugiram para as cidades, já outros passaram a atacar em bandos as propriedades da nobreza feudal, como exemplo podemos citar as rebeliões camponesas que ocorreram na França : as Jacqueries.
Diante de tal quadro a nobreza feudal, atemorizada pelas revoltas camponesas que sacudiam a Europa, perceberam que era necessário que se fizesse uma mudança na estrutura de poder para que ela continuasse a ser a grupo social dominante.
Essa mudança atende pelo nome de Estado Nacional. Um Estado onde o poder político, ao contrário do que ocorria anteriormente, estava centralizado nas mãos do rei. A esse tipo de governo em que o poder político está centralizado nas mãos de um rei dá-se o nome de Monarquia Absolutista.
Muitos livros didáticos insistem em afirmar que o Estado absolutista é fruto da aliança entre o rei e a burguesia com o intuito de submeter a nobreza feudal. Segundo esses autores o rei não via com bons olhos o fato de ter em seus reinos homens com tanto e as vezes até com mais poderes do que ele. E à burguesia interessava o fortalecimento do rei uma vez que a descentralização política era prejudicial aos seus negócios como já vimos em aulas anteriores.
Um outro caminho, o qual eu prefiro percorrer, é apontado pelo historiador inglês Perry Anderson, um especialista no assunto, que em sua obra Linhagens do Estado Absolutista nos mostra que o absolutismo foi a fórmula encontrada pela nobreza feudal para submeter as revoltas camponesas que ameaçavam o seu domínio. É por isso que os senhores feudais aceitam transferir parte dos seus poderes para as mãos do rei(que também era um nobre como eles).
Podemos então concluir que temendo o pior a nobreza feudal “preferiu entregar os anéis para conservar os dedos”.
Estabelecido o absolutismo era necessário justificá-lo, então vamos lá: segundo Jean Bodin(jurista francês)e Jacques Bossuet(religioso) a autoridade do rei vinha de Deus, o rei seria o representante de Deus na terra portanto contrariar a vontade do rei implicava contrariar a vontade de Deus. Quem ousaria? Esse tipo de justificativa ficou conhecida como a teoria do direito divino dos reis. Outra justificativa significativa foi a teoria contratualista. Na sua obra: “Leviatã”(nome do monstro fenício do caos)Thomas Hobbes(filósofo)coloca que em uma fase posterior, os homens dotados da razão, do sentimento de autoconservação e de defesa buscam superar o estado natural de destruição unindo-se para formar uma sociedade civil, mediante um contrato segundo o qual cada um cede seus direitos ao soberano. Hobbes conclui que a autoridade do rei deve ser absoluta, a fim de proteger os cidadãos contra a violência e o caos da sociedade primitiva.
É importante salientar que o surgimento dos Estados Nacionais com o poder político centralizado nas mãos do rei não significou o fim do modo de produção feudal, uma vez que as relações sociais de produção permaneceram essencialmente feudais.
A formação dos Estados Nacionais como bem sabemos não se deu da mesma forma, nem ao mesmo tempo. A Alemanha e a Itália por exemplo só se constituíram enquanto Estado Nação na segunda metade do século XIX.
Um outro dado que deve ser colocado em relação ao Absolutismo diz respeito ao fato que a sua definição: “centralização dos poderes nas mãos do rei” pode nos dar a falsa idéia de que o rei governava sozinho, de que ele estava “acima da sociedade”. Normalmente qualquer governante precisa de uma sólida base de apoio social, sem a qual seria quase impossível governar . E, desta forma, assumem determinados compromissos e recebem pressões às quais o governante não pode se furtar. No caso da monarquia absolutista essa base de sustentação era a nobreza e o alto clero.
Na Economia, o Absolutismo correspondeu ao período de transição do feudalismo para o capitalismo, quando a burguesia, sob a proteção do Estado Absolutista, acumulou capitais e condições para mais a frente implantar o modo de produção capitalista.
No plano político, a formação do Estado Absolutista correspondeu a uma necessidade de centralização do poder nas mãos do monarca(rei), par controlar a grande massa de camponeses e adequar-se ao surgimento da burguesia.
Aos nobres o rei concedia pensões, honrarias, privilégios fiscais e judiciários, além dos rendimentos dos melhores cargos do Estado que eram reservados para os membros da nobreza.
Os burgueses também aceitavam as imposições do Estado Absolutista. Afinal, desenvolvendo e incentivando o comércio e as manufaturas, organizando a expansão marítima e a exploração das colônias, o rei garantia-lhes fontes de lucros e meios de enriquecimento.



A EXPANSÃO MARÍTIMA E AS PRÁTICAS MERCANTILISTAS
A partir do século XI, o comércio entre a Europa e o Oriente ganhou novo impulso com as cruzadas (expedições militares de caráter religioso que tinha como objetivo expulsar os muçulmanos que ocupavam Jerusalém, local onde estaria enterrado o corpo de Jesus Cristo.)
Inegavelmente, a religiosidade do homem medieval foi um fator importante para a organização das cruzadas. Porém, outros fatores, como a marginalização crescente decorrente do crescimento populacional e da persistência do direito de primogenitura, segundo o qual somente o filho mais velho do senhor feudal herdava as suas propriedades. Forem igualmente importantes na construção do movimento cruzadista.
Para os setores marginalizados, não incorporados ao processo de produção, e para os nobres sem feudos, as cruzadas representavam, então, uma oportunidade de aventura, e mais ainda, a possibilidade de enriquecimento.
Os europeus não conseguiram alcançar o seu objetivo religioso através das cruzadas, porém, o comércio entre Ocidente e Oriente entrou em um ritmo frenético. Os mercadores europeus principalmente os das cidades italianas, Gênova e Veneza, traziam do Oriente sedas, tapetes, perfumes, porcelanas e principalmente as especiarias (cravo, canela, gengibre, pimenta) que eram caríssimas na Europa.
Tais produtos saíam do Oriente e até chegar as mãos dos consumidores europeus percorriam um longo trajeto por terra e depois por mar, passando por diversos intermediários, o que aumentava os seus preços.
Para pagar pelos produtos que vinham do Oriente, a Europa necessitava de grande quantidade de moedas, que resultou na escassez de metais preciosos. Produtos caros e falta de ouro e prata tornaram urgente uma expansão marítimo-comercial, a fim de encontrar uma nova rota para o Oriente, as rotas até então existentes eram monopólios (exclusividade) das cidades italianas (Gênova e Veneza) e dos árabes.
O expansionismo marítimo europeu, com as grandes navegações, resultou das mudanças ocorridas na transição da Idade Média para a Idade Moderna: o Renascimento comercial e urbano. As crises do século XIV, a formação do Estado Nacional, o aperfeiçoamento técnico, como o uso da bússola por exemplo.
A burguesia, classe ligada ao comércio, pressionava o Estado a buscar e descobrir novos mercados. Os reis por sua vez, tinham interesse em ampliar suas rendas, para adquirir maior poder.
O primeiro Estado a se lançar nesta aventura foi Portugal, e isso não ocorreu acaso. Portugal foi o pioneiro na expansão marítima devido a uma série de fatores, como por exemplo: a precoce centralização do poder nas mãos do rei; o fato de possuir um grupo mercantil bastante dinâmico também contribuiu para o pioneirismo português.
A expansão portuguesa começou com incursões ao continente africano. O pontapé inicial foi a tomada de Ceuta em 1415. Da África os portugueses retiravam ouro, marfim e escravos, além de um tipo de pimenta de qualidade inferior as do Oriente. Em 1488 Bartolomeu Dias consegue transpor o Cabo das Tormentas, posteriormente batizado como Cabo da Boa Esperança, pois por ele tinha-se acesso ao Oceano Índico. Faltava pouco para que os portugueses conseguissem concretizar o sonho de chegar às Índias Orientais. É claro que os resultados dessas viagens eram segredos guardados a sete chaves tanto que até hoje não temos documentos que comprovem se o descobrimento do Brasil se deu por acaso ou se Cabral tinha ordens explícitas para se desviar da rota e comprovar a existência de terras desconhecidas.
Em 1498, Vasco da Gama chegava a Calicute na Índia, seguindo a rota de Bartolomeu Dias. A descoberta de Vasco da Gama assegurou o acesso direto dos portugueses às especiarias, e aos demais produtos do Oriente inaugurando um comércio altamente lucrativo para Portugal. Dois anos após Vasco da Gama chegar às Índias, Cabral aporta a 21 de abril de 1500 em terras do Brasil.


AS PRÁTICAS MERCANTILISTAS
Entende-se por mercantilismo o conjunto de idéias e práticas econômicas dominante na Europa entre os séculos XV e XVIII, fase correspondente à transição do feudalismo ao capitalismo, portanto a era de acumulação primitiva de capital.
A política mercantilista tinha como objetivo direto o fortalecimento do Estado, e indireto o enriquecimento da burguesia.
Entre as principais idéias que marcaram o mercantilismo podemos destacar as seguintes:
· Metalismo -> considera-se que a riqueza de um Estado dependia da quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que ele acumulasse. A Espanha possuidora de colônias ricas em ouro e prata foi o país que mais se destacou na concepção metalista.

·Balança de Comércio Favorável -> “quem não tem cão caça com
gato” , diz o ditado popular, quem não possuía colônias ricas em ouro e prata devera procurar alcançar uma Balança de Comércio Favorável, o que significa vender mais para fora (exportar mais do que importar). Em busca de uma Balança Comercial Favorável, a França, por exemplo, incentivou a produção manufatureira de artigos d luxo. Já a Inglaterra sem a tradição francesa dos artigos de luxo investiu na construção naval, na criação de companhias de comércio, como a das Índias Orientais.

·Protecionismo -> para que a balança de comércio fosse favorável, o Estado mercantilista interferia na economia de dois modos principais: incentivou os setores produtivos e dificultou a importação de produtos concorrentes, utilizando para isso a adoção elevadas tarifas alfandegárias.


OS TIPOS DE MERCANTILISMO
Ao ser colocado em prática por diferentes países europeus, o mercantilismo foi adquirindo características específicas. Tendo em vista as condições econômicas desses países.
O mercantilismo espanhol foi acentuadamente metalista, obviamente devido a grande quantidade de ouro e prata que esse país retirava de suas colônias da América. Devido a facilidade que a Espanha tinha de obter metais preciosos, a Espanha não procurou desenvolver manufaturas, importando todos os produtos de que necessitava. Tal procedimento se mostrou desastroso pois em pouco tempo a Espanha perderia a hegemonia (domínio) mundial.
O mercantilismo francês, denominado Colbertismo devido as ações desenvolventistas de Colbert, ministro das finanças de Luís XIV voltou-se para o desenvolvimento das manufaturas de artigos de luxo que encontrariam mercado na sofisticada corte espanhola.
Já na Inglaterra, as práticas mercantilistas voltaram-se para o fortalecimento do comércio através do controle do transporte marítimo dos produtos que saiam dos portos ingleses ou que lá chegavam.


O SISTEMA COLONIAL
Dentro do contexto da transição do feudalismo ao capitalismo, a América ofereceu contribuição relevante na medida em que da América principalmente a Ibérica (portuguesa e espanhola) saíram os recursos, sob a forma de metais ou produtos tropicais, que permitiram acumulação de capital na Europa.
Dentro da linha de pensamento mercantilista a colônia existe em função das necessidades da metrópole e cumpre o seu papel na medida em que contribui para a manutenção da balança comercial favorável da metrópole. Compete a Colônia fornecer matérias-primas e produtos agrícolas a baixo custo para a sua respectiva Metrópole e dela comprar produtos manufaturados por preços elevados. A economia colonial para atender aos princípios mercantilistas adotados pelos Estados europeus deveria ser complementar a economia metropolitana sem jamais com ela concorrer
Como fica claro no parágrafo acima a exploração colonial orientou-se pela política mercantilista, dentro dos quadros do monopólio, do protecionismo e da economia complementar. As relações entre a Colônia e a Metrópole era regida pelo Pacto Colonial também chamado monopólio comercial ou exclusivo colonial.
Apesar do nome, o pacto (sugere a idéia de acordo mútuo) era uma imposição da Metrópole. Assim a Colônia se via obrigada a:
1.só comerciar com a Metrópole
2.só produzir o que não contrariasse os interesses metropolitanos. O que significava a impossibilidade por exemplo de se desenvolver uma produção manufatureira.
Novamente devemos atentar para o fato de que por mais que a adoção de exclusivo colonial impedia o desenvolvimento da Colônia, uma vez que a Metrópole impunha e restringia, havia alguns furos nesse esquema. O contrabando mostra que era possível driblar o pacto colonial, um outro detalhe reside no fato que a Colônia com o passar dos anos desenvolveu uma dinâmica própria, e nem sempre os interesses coloniais iam de encontro com os interesses metropolitanos, o que deixa claro que a Colônia era algo mais que um mero apêndice da metrópole.
Da mesma forma que o mercantilismo variou de acordo com as possibilidades de cada país, a colonização também não foi una, variando de acordo com as áreas coloniais.
Podemos estabelecer dois tipos de colonização: Colônias de Exploração e Colônias de Povoamento.
Podemos afirmar que as nações européias quando partiram para conseguir colônias, o fizeram com o objetivo de sugar dessas áreas a maior quantidade de riqueza possível.
Quando os espanhóis chegaram a América para a felicidade deles e infelicidade de Incas e Astecas encontraram grandes quantidades de metais preciosos. Os portugueses quando aportaram aqui em 1500, de interessante comercialmente só encontraram o pau-brasil, que devido ao comércio das especiarias com o Oriente, ficava relegado a segundo plano, o que explica o fato de que somente 30 anos após o descobrimento e no momento em que o comércio das especiarias com o Oriente entra em declínio é que Portugal se volta para o Brasil.
No entanto quando os ingleses chegaram na área em que hoje se situa os Estados Unidos, o colonizador inglês não descobriu nem metais preciosos, como no caso espanhol, nem a possibilidade de produzir algum produto que alcançasse preços elevados no mercado europeu como no caso português, com o açúcar, uma vez que o solo e o clima eram muitos semelhantes aos da Europa. Então o que se plantasse lá não seria raro e nem caro na Europa. Logo o modelo de Colônia de exploração não poderia ser implementado na sua totalidade no território norte-americano.
Na impossibilidade de explorar as 13 colônias que deram origem aos EUA os ingleses resolveram povoar essas colônias. Os ingleses que vieram colonizar os Estados Unidos saíram da Inglaterra basicamente por dois motivos: as perseguições religiosas e as expulsões de camponeses devido aos enclosures (cercamento dos campos para a criação de ovelhas). Essas pessoas vieram para a América para morar, reconstruir as suas vidas, ao contrário por exemplo de grande parte dos colonos portugueses que vieram para o Brasil com a mentalidade de enriquecer e voltar a Portugal.
Devido as características da colonização dos Estados Unidos pelos ingleses (Colônia de povoamento) predominou a pequena propriedade familiar, baseado no trabalho livre o que possibilitou a dinamização de um mercado interno. A economia era baseada na policultura e no incentivo as manufaturas(centro-norte). É importante ressaltar que o sul dos EUA estava enquadrado no sistema colonial, lá predominava o latifúndio, o trabalho escravo e monocultura (algodão) voltada para o mercado externo.
Já no caso da América Ibérica as colônias se enquadraram totalmente no sistema colonial como colônia de exploração baseadas no latifúndio, na monocultura e no trabalho compulsório(escravo).
É o tipo de colonização que vai explicar por exemplo o êxito dos Estados Unidos (uma das grandes potências mundiais, que foi Colônia de povoamento) em detrimento de países como o Brasil(país subdesenvolvido) que foi colônia de exploração. Nunca é demais ressaltar que os países que compõem o G7, o grupo dos 7 países mais ricos do mundo, nenhum foi colônia de exploração.
Lembrem-se disso quando ouvirem tolices do tipo: “o Brasil é um país subdesenvolvido porque foi descoberto e colonizado pelos portugueses” que na realidade traz implícito a seguinte idéia: se o Brasil fosse por ventura descoberto e colonizado pelos ingleses a nossa sorte seria outra. Lembrem-se que a Jamaica foi Colônia inglesa, só que colônia de exploração, e situação da Jamaica é pior do que a nossa. Fica claro que é o tipo de colonização que explica o êxito ou não de uma ex-colônia.












A Crise Feudal

A transição do Feudalismo para o Capitalismo
● Momento de crise
No século XIV, na Europa Ocidental, a população vivia dentro de determinadas características, que vinham sendo construídas desde o século III, e às quais denominamos Feudalismo. As relações de produção se baseavam no trabalho servil prestado fundamentalmente nas terras dos “senhores feudais”: os nobres e os elementos da alta hierarquia da Igreja Católica.
O crescimento da população, verificado entre os séculos XI e XIV, foi extraordinário. Os nobres aumentaram em número e tornaram-se mais exigentes com relação aos seus hábitos de consumo: isso determinava a necessidade de aumentar suas rendas e para consegui-lo, aumentou-se grandemente o grau de exploração da massa camponesa. Esta superexploração produziu protestos dos servos, consubstanciados em numerosas revoltas e fugas para as cidades. A repressão a esses movimentos foi enorme, mas a nobreza e o alto clero tiveram razões para temer por sua sobrevivência.
Paralelamente, importantes alterações do quadro natural provocaram sérias conseqüências. Durante o século XIII ocorrera uma expansão das áreas agrícolas, devido ao aproveitamento das áreas de pastagens e à derrubada de florestas. O desmatamento provocou alterações climáticas e chuvas torrenciais e contínuas, enquanto o aproveitamento da área de pastagens levou a uma diminuição do adubo animal, o que se refletirá na baixa produtividade agrícola. Com as péssimas colheitas que se verificaram, ocorreu uma alta de preços dos produtos agrícolas. Os europeus passaram a conviver com a fome.
Os índices de mortalidade aumentaram sensivelmente e, no século XIV, uma população debilitada pela fome teve que enfrentar uma epidemia de extrema gravidade: a Peste Negra, que chegou a dizimar cerca de 1/3 dos habitantes da Europa.
O homem medieval via a peste como um castigo divino. Entretanto, se analisarmos todos os dados referentes à habitação, higiene, alimentação e saúde, veremos que o caráter pandêmico da praga derivou da precariedade de todos estes aspectos, e de sua homogeneidade mais ou menos acentuada em todo o território europeu. A "morte negra" provavelmente não teria ocorrido se as condições de moradia ou higiene fossem outras, pelo menos não na extensão que ocorreu. Durante o apogeu do Império Romano, havia cidades muito maiores, mas as condições de habitação e saúde eram muito superiores.
A peste foi um fenômeno característico de um mundo em mutação. Foi o alto preço pago por um continente que começava a se abrir para o resto do mundo através do aumento das relações comerciais, mas que ainda vivia em um ambiente concebido para uma vida isolada e auto-suficiente. Sob este aspecto, a praga teve um lado positivo, ao obrigar o homem ocidental a mudar a sua forma de se relacionar com o meio ambiente, ensinado-o o valor do planejamento urbano e da higiene, além de expor a fragilidade da ciência médica medieval e, conseqüentemente, possibilitar sua evolução, livrando-a, pelo menos para alguns, da ignorância e da superstição.



Agravando ainda mais o complexo quadro de crise feudal, temos o conflito entre a França e Inglaterra, conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Durante um longo período, que se estendeu por 116 anos (1337-1453), ingleses e franceses disputaram entre si, principalmente, a propriedade de regiões economicamente importantes que interessavam aos dois reinos, originando um conflito acentuado caráter feudal. Para compreendermos as origens dessa antiga rivalidade franco-inglesa, é preciso resgatar o Tratado de Paris (1259). Através desse documento, Henrique III da Inglaterra se comprometia, junto a Luís IX da França, a abandonar suas pretensões territoriais sobre a Normandia, Maine, Anjou, Touraine e Poitou, mas conservava a Gasconha (feudo concecido pelos franceses à Coroa inglesa). No entanto, boa parte do Ducado de Gasconha estava nas mãos de senhores insubmissos que ignoravam o poder do Rei inglês. Era comum os vassalos gascões apelarem ao Rei francês contra as decisões impostas pelas autoridades inglesas na região, originando-se aí constantes conflitos entre França e Inglaterra. Mas, o ponto principal de discórdia e rivalidade entre os reinos inglês e francês concentrava-se na disputa territorial pela região de Flandres. Essa região era economicamente importante e atraía interesses de ambos, em virtude do seu próspero comércio e indústria têxtil. Os flamengos eram grandes consumidores de lãs inglesas, por isso Flandres e Inglaterra estabeleceram uma aliança comercial, não aceita pelos franceses, também interessados na região. Em suma, Flandres estava vinculada economicamente à Inglaterra, mas, politicamente, pertencia ao Reino da França, que não admitia a interferência inglesa na região.
Movidos, portanto por ambições territoriais e questões dinásticas (problemas de sucessão imperial), os exércitos de França e Inglaterra provocaram um conflito feudal que se estendeu por mais de um século. No entanto, vale lembrar que, na prática, houve períodos de paz e de paralisação (inatividade) dos combates franco-ingleses durante a guerra
Não bastasse a fome, a peste e as guerras, dificuldades econômicas de toda ordem assolavam a Europa, que passou a conviver com um outro problema: o esgotamento das fontes de minérios preciosos, necessários para a cunhagem de moedas, levando os reis a constantes desvalorizações da moeda. Isso só fazia agravar a crise.
No plano social, ao lado dos problemas já levantados, importa verificar o crescimento de um novo grupo: as burguesias comerciais, residentes em cidades que tendiam para uma expansão cada vez maior, pois passaram a atrair os camponeses e os elementos “marginais” da sociedade feudal.
Politicamente, a crise se traduz pelo fortalecimento da .autoridade real, considerado necessário pela nobreza, temerosa do alcance das revoltas camponesas. A unificação política, ou surgimento dos Estados Nacionais, aparece, desta forma, como uma solução política para a nobreza manter sua dominação.
Finalmente, a crise se manifesta também no plano espiritual—religioso. Tantas desgraças afetaram profundamente as mentes dos homens europeus, traduzindo-se em novas necessidades espirituais (uma nova concepção do homem e do mundo) e religiosas (a igreja Católica não conseguia atingir tão facilmente os fiéis, necessitados de uma teologia mais dinâmica).

sexta-feira, 28 de março de 2008

A Reforma - ISERJ - 1º ano 2011

Convencionou-se denominar Reforma o conjunto de fatos que abalaram a Igreja Católica no início da Modernidade. Na realidade, trata-se do aparecimento de novas religiões(a Reforma Protestante) e do movimento de reação da Igreja católica (a Reforma Católica).
Já desde o século XIV que a crise religiosa se fazia sentir com mais intensidade, gerando alguns movimentos de reforma que, no entanto, foram considerados heráticos pela Igreja, sendo os responsáveis por eles eliminados do seio católico. Tal foi o caso, por exemplo, de Wycliff, na Inglaterra e huss, na Boêmia.
No início do século XVI, aquilo que parecia uma heresia a mais terminou por produzir uma profunda brecha na Igreja. O monge Martinho Lutero, alemão, quationou a validade das indulgências que estavam sendo vendidas pela Igreja Católica, e na sequência do seu protesto, passou a discutir outros dógmas e doutrinas católicas. foi excomungado pelo Papa Leão X, mas conseguiu o apoio de alguns príncipes alemães. Daí surgiu a primeira de uma série de novas religiões: a Luterana.
No entanto, não se deve pensar que a Reforma Protestante era fruto exclusivo das iniciativas ou do pensamento de Lutero. a necessidade de uma mudança nas doutrinas católicas era já sentida. a ausência dos bispos em suas dioceses era muito notada. O despreparo do clero saltava a vista. Numa época em que as pessoas se sentiam inseguras frente à vida, o clero não estava conseguindo atingir a população com suas pregações. Nunca o povo europeu manifestou sua religiosidade como nessa época, e, provavelmente por isso mesmo, passou-se a questionar seriamente a necessidade de sacerdotes. A idéia de que cada um poderia ser sacerdote de si mesmo ganhava corpo.
A par desta questão religiosa, é necessário verificar que determinados elementos da economia e da política da época também contribuiam poderosamente para a ruptura com a Igreja. Pode-se destacar: a insatisfação dos reis com o poder temporal do Papa, um verdadeiro obstáculo `a centralização do poder que então ocorria; as terras da Igreja despertavam a cobiça de nobres e reis; os impostos cobrados pelo Papa constituiam uma autêntica evasão de divisas; o choque entre o pensamento burguês e as concepções econômicas da Igreja.
A questão das indulgências foi o estopim. a partir daí começaram a ser criadas novas religiões. O Luteranismo, na Alemanha; o Calvinismo, na Suiça; o anglicanismo, na Inglaterra, são alguns exemplo. Luteranos e calvinistas em breve podiam ser encontrados em quase toda a Europa. a rigor, apenas Espanha, Portugal, Itália e Polônia permaneceram integralmente católicos.
A reação da Igreja Católica demorou um pouco, mas foi feita, dando origem à Reforma Católica ou Contra Reforma. Através do Concílio de Trento, a Igreja procurou reafirmar seus dogmas, condenando as novas religiões. foram criados Seminários e o Catecismo e instituído o Índice dos Livros Proibidos (Index).
O trabalho de algumas ordens religiosas também foi significativo na contra-reforma, destacando-se a Companhia de Jesus, ou Ordem Jesuíta, criada por Inácio de Loyola e que voltou-se especialmente para a educação e catequese.
também o tribunal da Inquisição foi utilizado pela Igreja na tentativa de recuperar áreas perdidas para as religiões reformadas, ao mesmo tempo em que procurava evitar a expansão das novas idéias.
Com a Reforma, a Unidade religiosa da Europa desapareceu. um clima de intolerância passou a se manifestar, gerando perseguições, guerras. O poder político do Papa fragmentou-se e o poder dos reis fortaleceu-se. De uma certa forma a Reforma liberou ou contribuiu para retirar determinados obstáculos à expansão do capitalismo, na medida em que muitas das novas religiões passaram a pregar a necessidade da poupança, de uma vida mais rígida, sem gastos ou ostentações. No plano cultural, pôde-se verificar uma expansão da educação popular, ao mesmo tempo em que a extrema valorização da Bíblia contribuía para um retrocesso do desenvolvimento científico. as artes foram profundamente afetadas pela Reforma.
Fonte: Ricardo, Adhemar e Flavio, História. pgs 46 a 48.

O Renascimento Cultural

A crise do século XIV produziu uma profunda inquietação intelectual, caracterizada pela idéia de necessidade de renovação cultural, fenômeno que ficou conhecido por Renascimento. Este nome foi cunhado pelos humanistas italianos. Os humanistas eram, primitivamente, os elementos das universidades que recusavam os currículos tradicionais(voltados paraa Igreja) e pregavam a necessidade de uma renovação, com a inclusão de novas disciplinas, como a História, a Matemática e as línguas Orientais. Progressivamente, o termo Humanista passou a designar todos aqueles elementos que se empenhavam na renovação cultural, a partir de uma visão essencialmente crítica da sociedade européia.
O Renascimento surgiu na Itália, devido, fundamentalmente, às transformações econômico-sociais que se operavam nas principais cidades italianas. O intercâmbio comercial e o monopólio italiano no Mediterrâneo são fatores que se articulam para que possamos compreender o dinamismo cultural e intelectual da Itália à época do Renascimento.
Outro ponto que deve ser destacado é a tradição clássica mais vigorosa na Península italiana, berço do Império Romano. por último, o mecenato desenvolvido pelas ricas famílias que, em várias cidades, detinham o monopólio do poder político. esses mecenas deram uma extraordinária contribuição às artes, protegendo e financiando artistas.
Da Itália o renascimento expandiu-se para outros locais da Europa, notadamente a Espanha, França, Portugal, Alemanha, Países Baixos. Em cada um desses locais apresentou características específicas, mas, numa abordagem mais generalizante, podemos apontar os seguintes elementos como definidores do Renascimento:
Humanismo = valorização do ser humano, por oposição à Idade Média, onde ele era considerado um "simples grão de areia no deserto".
Classicismo = O renascimento voltou-se para a Antiguidade, mas não para tentar revivê-la. Não é uma simples "volta" ao passado; na realidade, é muito mais uma reinterpretação dos valores greco-latinos.
Individualismo = procurava-se abandonar o espírito corporativo que predominara até então. Os nobres e burgueses não tinham mais nenhum pudor em mandar fazer um retrato ou uma estátua de si mesmos; os artistas passaram a assinar sua obra.
Hedonismo = buscava-se a plena realização espiritual, a auto-satisfação. A busca do prazer passa a ser uma constante, também em oposição ao ascetismo medieval.
Naturalismo = a integração do homem à natureza, a redescoberta da íntima ligação com o Universo marcam o movimento renascentista. Procura-se colocar de lado o fantástico e o sobrenatural.
Antropocentrismo = em oposição ao Teocentrismo medieval, o Renascimento apresenta o homem como centro do Universo; O homem é a medida de todas as coisas.
Espírito Crítico = os pensadores e cientistas do renascimento são profundamente críticos, valorizando a experimentação, o que abre espaço para um grande desenvolvimento da matemática, da astronomia, da física e da medicina.
Racionalismo = o crescimento científico dessa época, marcado pelo método experimental, leva à rejeição das interpretações dogmáticas e à valorização da Razão. só se pode aceitar como verdade em ciência aquilo que o homem pode compreender através do seu intelecto. Abandonam-se, pois, supertições e lendas típicas do período medieval.
(...)Finalmente, é importante lembrar que o Renascimento é, esencialmente, um movimento elitista. O povo não participou desse movimento, abrindo-se, a partir daí, uma nítida divisão entre arte erudita e arte popular(...)
fonte: Ricardo, Adhemar e Flávio História. Vol 1 . pg35 a 37

sábado, 22 de março de 2008

Eram os gregos macumbeiros ?
Profº Dr. Marcos Alvito
Pontapé inicial:
Um labirinto de vielas, estreitas, sinuosas e sem iluminação à noite, com fama de perigosas. De dia, muito barulho e movimento, nuvens de poeira em meio a um calor infernal e mosquitos. Na praça, vende-se de tudo um pouco e na barbearia homens discutem com vigor os últimos acontecimentos. Não estamos falando de nenhuma favela carioca ou de um povoado árabe e sim da Atenas clássica, com seus templos coloridos (o Partenon tinha azul e vermelho) e seu povo alegre e agitado. Mas as semelhanças não param por aí. Na belíssima cena literária criada por Platão para narrar a morte de Sócrates, o filósofo, em meio aos seus discípulos, faz um último pedido. Pede que sacrifiquem um galo a Asclépios, uma dívida que ele, preso, não pudera pagar. Em suma, poderíamos dizer que ele pede que façam um despacho. Atentemos com cuidado para o caráter ambivalente dos deuses gregos - Apolo trazia saúde e doença, Dioniso alegria e loucura, sem falar nas disputas entre eles ou na perseguição vingativa que moviam a certos mortais.
Os orixás tem o mesmo caráter, rico e complexo como a vida, sem o maniqueísmo típico dos monoteísmos (cristãos, muçulmanos e fundamentalistas em geral).
O que nos impede de perceber as inúmeras semelhanças entre Atenas e Bahia ? É que os gregos são o cânone da tradição ocidental, enquanto os africanos e as culturas deles derivadas são vistos como primitivos. Puro preconceito, afinal, os gregos também eram macumbeiros: para tudo faziam sacrifícios animais, enterravam figurinhas de cera representando seus inimigos e eram tão religiosos que seria impossível conversar por cinco minutos com um deles sem ouvir menções aos deuses (Finley). Durante os festivais, o teatro onde eram apresentadas tragédias e comédias era uma mistura de Maracanã com programa de Chacrinha: mais de quinze mil pessoas batiam com os pés nas arquibancadas de madeira, comiam e bebiam desbragadamente, vaiavam e xingavam (se fosse o caso) e por vezes recebiam frutas lançadas pelos atores (bajulando o povão). E tragédia era música e dança também, sem falar nos figurinos, cenários e artifícios como o Deus-ex-Machina, um mecanismo que permitia simular a chegada de uma divindade literalmente caída do Céu (ou do Olimpo, se prefirirem). Em suma, os atenienses não eram um bando de intelectuais chatos, nem Atenas era um túmulo de mármore onde se respirava filosofia. Era mais provável sentir o cheiro das rosquinhas que se vendiam na ágora. Por isso, se um ateniense (mesmo filósofo) aparecesse por aqui, com certeza ele não iria a nenhum simpósio - aliás, simpósio era um banquete com vinho e hetairas também - mas decerto cairia no samba com o maior prazer. Ah, é claro que os gregos já tocavam pandeiro.

"MALANDRO NÃO CAI, NEM ESCORREGA"
profª Rosane Pereira / E.T.E Adolpho Bloch
"Meu terno branco/ linho S 120/ foi cortado com requinte pelo meu alfaiate inglês. / Camisa de seda pura/ pescoço desocupado/ bigode bem aparado/ um lado de cada vez. / Pisante de duas cores/ mas feito sob encomenda/ para que a oposição entenda que a maré pra mim tá boa./ Não é à toa / que uso esse chapéu quebrado/ para defender o telhado da friagem da garoa. / Chego assim mais esticado do que coro de cuíca,/ que a primeira impressão é que fica/ e eu chego querendo ficar. / Não sou malandro, porque malandro é de morte,/ estou no mundo por esporte/ só quero o leite e o mel./ Não sou malandro mas tenho o meu santo forte,/ sou um otário com sorte,/ sou zona norte,/ sou Vila Isabel."
(Poesia de Pedro Amorim )
A polícia nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, estava preocupada em manter a "ordem" na Capital Federal. Tinha por objetivo, por fim ou, diminuir a "desordem" provocada pela camada mais baixa da sociedade. Impregnados pela visão da classe dominante, que buscava regenerar a cidade, olhava para o povo como um agente perturbador da ordem pública. Muito barulhento com sua música e desordeiro em seus costumes, sua dança, aos olhos da elite, era por demais sensual.
Qualquer coisa que favorecesse a essa gente em seus modos de ser, a polícia intervinha, inclusive era comum a apreensão de objetos, como instrumentos musicais, com a intenção de evitar a desordem que causava. Havia uma preocupação por parte do governo em disciplinar e organizar as camadas sociais inferiores nos padrões europeus. Buscava ideologias que distinguissem o lícito do ilícito, o moral do imoral, a ordem da desordem. Pretendiam com toda essa mudança criar as regras "dos bons costumes". Não será só a música um instrumento de resistência, surge, também, um personagem que vai dar muito trabalho à repressão policial: o malandro. Mas quem é essa personalidade? Claudia Matos nos relata que o grupo de sambistas do Estácio, Cidade Nova, Saúde, Morro da Favela, Gamboa, Morro de São Carlos etc. , formava o reduto constituído de ex-escravos e seus descendentes, esses elementos foram os primeiros a ostentar a designação de "malandros" e a orgulhar-se dela. Sua música (o samba) realçava uma diferença de classe, sua cadência era mais sincopada, apoiada na percussão. Para essa camada social, este gênero musical, apresentava um som todo especial.
Alcebíades Barcelos, o Bide e Francisco Alves gravaram o primeiro samba no "novo estilo": "A Malandragem", em 1927 e fez grande sucesso no carnaval de 1928, na voz do próprio Chico Alves. Chico Alves era um 'malandro'. "Comprositor" persistente, comprava dos sambistas suas músicas e as registrava em seu nome, normalmente, dividia a autoria com o verdadeiro compositor (prática que o aproxima do perfil malandro). Outro "comprositor" famoso: Germano Augusto. Notabilizou-se pela proeza de se apoderar, com golpes de astúcia ou à força, de composições alheias, além de figurar em parcerias fictícias.
O perfil do bom malandro: andar solto, cheio de ginga, sorriso carregado de malícia. Olhar sedutor que nada escapava, conversa despretensiosa, esbaldando jogo de cintura. Terno de linho, sapato bicolor (a princípio usava tamancos), chapéu de panamá, lenço no pescoço e a inseparável navalha, eis aí o retrato falado do malandro.
Para além da rejeição do trabalho, o malandro é aquele que se recusa a pegar no pesado, procurando ganhar a vida longe das profissões em que seria necessário suar a camisa. Por isso o malandro vivia de expedientes, muitas vezes ilícitos como a jogatina, o contrabando e a cafetinagem.
O malandro se situa entre o mundo do trabalho, do ócio e o das pequenas transgressões. Transita por esses mundos sem se identificar plenamente com qualquer um deles.
Não tem emprego regular e nem faz questão de ter, embora, ocasionalmente trabalhe, como já foi dito, em atividades onde a força física não seja exigida. "Malandro que é malandro não pega no pesado".
Um dito popular afirma que o brasileiro é capaz de dar "nó em pingo d' água". Se esse dito estiver certo, nos arriscaríamos a afirmar, que o malandro seria capaz de dar nó em pingo de éter. Vejamos a história a seguir: uma ocasião um ladrão invadiu a casa de Wilson Batista, que tranquilamente inquiriu o meliante "o que você quer aqui? Respondeu o ladrào: "dinheiro." "Entào, devo lhe informar que o amigo bateu na porta errada". Pegou o ladrào pelo braço, conduziu-o até a janela e lhe confidenciou: "ta vendo aquela casa ali? Lá mora um industrial. Ta vendo aquela outra? Mora o grande ator Procópio Ferreira. Escolhe uma das duas, que aqui você nào vai conseguir nada." Acertadamente em um dos seus sambas, Moreira da Silva, o Kid Morengueira, afirmava que "em casa de malandro vagabundo nào pede emprego."
Desde os anos 1920, o malandro figurava como inspiraçào de sambas que podem ser analisados como verdadeiras crônicas de um cotidiano que iria se chocar com os interesses do Estado autoritário e intervencionista que estava sendo gestado a partir de 1930 e se efetivaria em 1937, quando o presidente Getúlio Vargas implanta o Estado Novo. Em linhas gerais o projeto estadonovista pretendia impulsionar a industrializaçào, e para tanto precisava contar com a constituiçào de uma classe operária disciplinada e amante do batente.
Pensemos: como esta classe desprivilegiada pode ser amante do batente? Se em toda a formaçào de sua história no Brasil (referente ao período aqui apresentado), o negro foi explorado, feito escravo, praticamente sem nenhum direito; se seus costumes (também suas músicas, suas danças) incomodavam. Seus hábitos nào eram considerados civilizados, eram vistos como bárbaros aos olhos do poder governamental e da elite brasileira. Quais seriam as cartas da repressão para transformar essa classe, em uma classe de operários disciplinados e amantes do batente? Existiriam tais cartas?